sexta-feira, 5 de junho de 2009

valores

Acreditando sem ver

Um imperador disse ao rabino:
- Eu gostaria muito de ver o vosso Deus.
- É impossível – respondeu o rabino.
- Impossível? Então, como posso confiar minha vida a Alguém que não posso ver?
- Mostre-me o bolso onde tem guardado o amor por sua mulher. E deixa-me pesá-lo, para ver se é um grande amor.
- Não seja tolo; ninguém pode guardar o amor num bolso – respondeu o imperador ao rabino.
- O sol é apenas uma das obras que o Senhor colocou no Universo e, no entanto, você não pode olhá-lo diretamente. Tampouco pode ver o amor, mas sabe que é capaz de apaixonar-se por uma mulher e confiar sua vida a ela. Não lhe parece evidente que existem certas coisas em que confiamos sem ver?



Tardio desabrochar (lenda mexicana)

O cacto permanecia sozinho no deserto, perguntando-se por que estava fincado no meio daquela vastidão.
- Eu nada faço a não ser ficar aqui o dia inteiro – suspirou ele. – Para que sirvo? Sou a planta mais feia do deserto. Meus espinhos são finos e pontiagudos, minhas folhas são borrachudas e duras, minha casca é grossa e cheia de saliências. Não posso oferecer sombra nem frutos suculentos a nenhum viajante. Não vejo em mim utilidade alguma.
Tudo o que fazia era permanecer ao sol dia após dia, ficando cada vez mais alto e gordo. Seus espinhos encompridaram e suas folhas endureceram ainda mais, e inchou aqui e ali até ficar totalmente cheio de protuberâncias e disforme. Era realmente estranho de ver.
- Quisera eu pudesse fazer algo de útil! – suspirou.
Dia após dia os gaviões descreviam círculos acima dele.
- O que posso fazer da minha vida? – gritou o cacto. Se ouviram ou não, os gaviões se afastaram.
À noite, a lua pairava no céu e deitava seu brilho pálido sobre as areias do deserto.
- O que posso fazer de bom da minha vida? – suplicou o cacto. A lua olhava apenas, friamente, enquanto prosseguia em seu curso.
Um lagarto passou rastejando ali por perto, marcando uma pequena trilha com a cauda na areia.
- Que feito digno posso fazer? – gritou o cacto.
- Você? – riu-se o lagarto, parando por um momento. – Feito digno? Ora, você não pode fazer nada! Os gaviões voam em círculos lá em cima, descrevendo formas delicadas para admirarmos. A lua mostra-se qual uma lanterna pendurada no céu à noite, e assim podemos enxergar o caminho de casa junto aos nossos entes queridos. Até eu, um ínfimo lagarto, tenho algo a fazer. Decoro as areias com lindas pinceladas quando arrasto a minha cauda por aí. Mas você? Você nada faz a não ser ficar mais feio a cada dia que passa.
E assim foi, ano após ano. Finalmente o cacto envelheceu, e sabia que seu tempo era curto.
- Oh, Deus! – lamentou-se. – Tanto quis e tanto tentei! Perdoai-me se falhei ao tentar encontrar algo digno para fazer. Temo que agora seja tarde demais.
Mas nesse exato momento o cacto sentiu um estranho rebuliço e algo se desdobrando, e experimentou uma onda de prazer que suplantou todo o desespero. Em sua extremidade superior, qual súbita coroa, uma flor gloriosa repentinamente desabrochou.
Nunca antes o deserto conhecera tal florescer. Sua fragrância perfumou o ar das redondezas e trouxe felicidade a todos que passavam. As borboletas pousaram para admirar sua beleza, e naquela noite até a lua sorriu quando encontrou tamanho tesouro ao levantar-se.
O cacto ouviu uma voz.
- Você esperou tanto – disse o Senhor. – O coração que busca coisas boas reflete minha glória, e sempre trará algo digno para o mundo, algo com o qual todos podemos regozijar... mesmo que por um breve instante.


Para refletir e discutir:
• Que mensagem você absorve da história lida?
• Releia a história e aponte em que você e o cacto são iguais e em que são diferentes.
• Como o desabrochar relaciona-se com o conhecer a si mesmo?
• Essas perguntas existenciais também surgem com você? Quais as respostas que você encontrou para respondê-las.




A Verdade e a Mentira

Houve uma ocasião em que a Verdade e a Mentira se encontraram numa estrada.
- Boa tarde! – disse a Verdade.
- Boa tarde! – retrucou a Mentira. – Como você tem passado?
- Sinto dizer que não vou lá tão bem. Sabe, os tempos andam difíceis para uma pessoa como eu – lamentou-se a Verdade.
- É, dá para perceber – disse a Mentira, olhando de cima a baixo as roupas esfarrapadas da Verdade. – Parece que você não faz uma boa refeição há algum tempo!
- Para ser honesta, não faço mesmo – admitiu a Verdade. – Ninguém mais quer usar meus serviços. Onde quer que eu vá, muita gente me ignora ou faz pouco de mim. Estou perdendo o ânimo, sabe. Estou começando a me perguntar se vale à pena continuar assim.
- E por que diabos você continua? Venha comigo que eu vou lhe mostrar como se dar bem. Não há razão nesse mundo para você deixar de comer o que quiser, como eu, nem de se vestir com as melhores roupas, como eu. Mas prometa que não vai dizer absolutamente nada contra mim enquanto estivermos juntas.
A Verdade prometeu e concordou em acompanhar a Mentira por algum tempo, não por gostar de sua companhia mas por ter tanta fome que estava prestes a desmaiar se não colocasse alguma coisa para dentro do estômago. Seguiram as duas pela estrada até chegarem a uma cidade e a Mentira foi logo conduzindo a Verdade para a melhor mesa do melhor restaurante das redondezas.
- Garçom, traga a carne mais apetitosa, as sobremesas mais gostosas e o vinho mais saboroso que vocês tiverem – pediu ela, e as duas passaram a tarde inteira comendo e bebendo do bom e do melhor. Por fim, quando já não agüentavam mais, a Mentira começou a bater na mesa com o punho cerrado e a chamar pelo gerente, que veio correndo.
- Que diabo de lugar é esse? Eu entreguei uma moeda de ouro ao garçom há quase uma hora e ele ainda não trouxe o troco.
O gerente mandou chamar o garçom, que disse não ter recebido um centavo sequer daquela senhora.
- O quê? – gritou a mentira, chamando a atenção de absolutamente todo mundo ali presente – Não posso acreditar numa coisa dessas! Duas inocentes e respeitáveis cidadãs chegam a uma casa como esta para almoçar e vocês tentam roubar-lhes o dinheiro ganho com muito suor! Vocês são um bando de ladrões mentirosos. Podem me enganar uma vez mas estejam certos de que não vão me ver nunca mais. Tome! – e jogou uma moeda de ouro nas mãos do gerente – E não vá se esquecer do meu troco outra vez.
O gerente, porém, receando pela reputação do restaurante, recusou-se a aceitar a moeda e trouxe o troco para a primeira que a Mentira dizia ter entregado ao garçom. Levou depois o garçom para um canto, chamou-o de canalha e disse que estava pensando em demiti-lo. E por mais que o pobre negasse ter recebido um centavo sequer da freguesa, o gerente continuou sem acreditar nele.
- Ora essa, onde foi parar a Verdade? – murmurou baixinho o garçom – Será que ela abandonou as grandes almas devotadas?
“Não, eu estou bem aqui”, resmungou a Verdade consigo mesma, “mas meu juízo cedeu à minha fome e agora não posso dizer nada sem quebrar a promessa que fiz à Mentira.”
Assim que as duas saíram na rua, a Mentira soltou uma tremenda gargalhada e congratulou-se com a Verdade:
- Está vendo como o mundo funciona? Você não acha que eu me saí muito bem?
Mas a Verdade se afastou dela.
- Prefiro morrer de fome a viver como você.
E então a Verdade e a Mentira se separaram; e jamais tornaram a se encontrar.


Para refletir e discutir:
• O que é ser verdadeiro?
• Uma pessoa verdadeira pode fazer uso das “meias verdades” no seu dia a dia? Justifique.
• Omitir verdades é utilizar-se da mentira. Explique.
• Quais as conseqüências do uso da mentira nas relações que estabelecemos com as pessoas? Dê exemplos.




Um conto de fadas ou a Flor da honestidade

Por volta do ano 250 antes de Cristo, na China antiga, um certo príncipe da região de Thing-Zda estava às vésperas de ser coroado imperador. Antes disso, porém, de acordo com a lei, ele deveria se casar.
Como se tratava de escolher a futura imperatriz, o príncipe precisava encontrar uma moça em quem pudesse confiar cegamente. Aconselhado por um sábio, ele resolveu convocar todas as jovens da região, para encontrar aquela que fosse a mais digna de se casar com o imperador.
Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre os preparativos para a audiência, sentiu uma grande tristeza - sua filha alimentava um amor secreto pelo príncipe.
Ao chegar em casa e relatar o fato à jovem, espantou-se ao ouvir que ela também pretendia comparecer à audiência.
A senhora ficou desesperada:
- Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes apenas as mais belas e ricas moças da corte. Tire esta idéia insensata da cabeça! Eu sei que você deve estar sofrendo, mas não transforme o sofrimento em uma loucura!
E a filha lhe respondeu:
- Querida mãe, não estou sofrendo e muito menos fiquei louca; sei que jamais poderei ser a escolhida, mas é minha oportunidade de ficar pelo menos alguns momentos perto do príncipe, e isso já me torna feliz - mesmo sabendo que meu destino é outro.
À noite, quando a jovem chegou ao palácio, lá estavam todas as mais belas moças, com as mais belas roupas, as mais belas jóias, e dispostas a lutar de qualquer jeito pela oportunidade que lhes era oferecida.
Cercado de sua corte, o príncipe anunciou o desafio:
- Darei para cada uma de vocês uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a flor mais linda, será a futura imperatriz da China.
A moça pegou a semente, plantou-a num vaso, e como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem, cuidava da terra com muita paciência e ternura – pois pensava que se a beleza das flores surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisava se preocupar com o resultado.
Passaram-se três meses e nada brotou. A jovem tentou um pouco de tudo, falou com lavradores e camponeses – que lhe ensinaram os mais variados métodos de cultivo -, mas não conseguiu nenhum que desse algum resultado. A cada dia sentia-se mais longe de seu sonho, embora o seu amor continuasse tão vivo como antes.
Por fim, os seis meses se esgotaram, e nada nasceu em seu vaso. Mesmo sabendo que nada tinha para mostrar, estava consciente de seu esforço e dedicação durante todo aquele tempo, de modo que comunicou à sua mãe que retornaria ao palácio, na data e hora combinadas. Secretamente, sabia que este seria seu último encontro com o bem-amado, e não pretendia perdê-lo por nada neste mundo.
Chegou o dia da nova audiência. A moça apareceu com seu vaso sem planta, e viu que todas as outras pretendentes tinham conseguido bons resultados: cada uma delas tinha uma flor mais bela do que a outra, das mais variadas formas e cores.
Finalmente veio o momento esperado: o príncipe entra e observa cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas elas, ele anuncia o resultado – e indica a filha de sua serva como sua nova esposa.
Todos os presentes começam a reclamar, dizendo que ele estava escolhendo justamente aquela que não tinha conseguido cultivar nenhuma planta.
Foi então que, calmamente, o príncipe esclareceu a razão de seu desafio:
- Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de uma imperatriz: a flor da honestidade. Todas as sementes que entreguei a vocês eram estéreis, e delas não podia nascer uma flor de jeito nenhum.



Para refletir e discutir:
O filósofo Diógenes procurou em Atenas e Corinto: “... Com lampião e lanterna, à luz do sol, procurei um homem honesto, mas não pude encontrar...”
Refletindo sobre essa narrativa, responda:
• É fácil agir com honestidade?
• Por que nem sempre os homens são honestos consigo mesmos e com os outros?
• Que qualidades morais demonstram um homem honesto?
• Quais ações expressam a honestidade?



A semente


Num acalorado dia de outono, uma menininha jogou uma semente dentro de um buraco na terra, recobriu-a e esperou sua flor crescer.
Mas logo chegaram as neves do inverno e formaram um espesso cobertor branco sobre o chão. E a pobre semente não pôde crescer.
Depois de esperar pacientemente durante semanas e meses, a menininha olhou porta afora e disse:
- Vamos, sementinha, cresça logo, cresça muito, muito, até que você tenha um caule comprido coberto de folhas verdes e enormes flores amarelas.
Mas a semente respondeu:
Ainda estou com frio, enregelada. Você terá que pedir a outrem.
- A quem? – perguntou a menininha.
- À terra enrijecida, em cujo seio me encontro – disse a semente.
- É o que vou fazer – gritou a menininha. – Terra, terra, por favor, amoleça para que minha sementinha possa se aquecer e transformar-se numa flor.
Mas a terra respondeu:
- Você terá que pedir a outrem.
- A quem? – perguntou a menininha.
- À neve que me recobre – disse a terra.
- É o que vou fazer – gritou a menininha. – Neve, neve, por favor
derreta para que a terra amoleça e a minha sementinha possa se aquecer e transformar numa flor.
Mas a neve respondeu:
- Você terá que pedir a outrem.
- A quem? – perguntou a menininha.
- Ao sol que me derrete – disse a neve.
- É o que vou fazer – gritou a menininha. – Sol, sol, por favor apareça para que a neve derreta e a terra amoleça e a minha sementinha possa se aquecer e transformar numa flor.
Mas o sol respondeu:
- Você terá que pedir a outrem.
- A quem? – perguntou a menininha.
- Às nuvens que me recobrem – disse o sol.
- É o que vou fazer – gritou a menininha. – Nuvens, nuvens, por favor vão embora para que o sol apareça e a neve derreta e a terra amoleça para que a minha sementinha possa se aquecer e transformar numa flor.
Mas as nuvens responderam:
- Você terá que pedir a outrem.
- A quem? – perguntou a menininha.
- Ao vento que nos sopra para longe – disseram as nuvens.
- É o que vou fazer – gritou a menininha. – Vento, vento, por favor sopre para que as nuvens vão embora e o sol apareça e a neve derreta e a terra amoleça para que a minha sementinha possa se aquecer e transformar numa flor.
Mas o vento sussurrou em seu ouvido:
- Você terá que pedir a outrem.
- A quem? – perguntou a menininha.
- A Deus que faz tudo crescer – disse o vento.
- É o que vou fazer – gritou a menininha. – Eu deveria ter pensado nisso.
Então ela se ajoelhou, juntou as mãos e pediu.
- Deus, peça ao vento que sopre para que as nuvens vão embora e o sol apareça e a neve derreta e a terra amoleça para que a minha sementinha possa se aquecer e transformar numa flor.
E Deus sorriu para a menininha.
Ela tornou a olhar porta afora. Havia uma brisa morna. As nuvens tinham ido embora, o sol estava brilhando, a neve derretendo e a terra amolecendo e se recobrindo de verde.
E em pouco tempo a flor surgiu.


Para refletir e discutir:
• Analisando um pouco mais a estória da semente, localizamos:
- O sonho da menina:
- Dificuldades enfrentadas:
- Em que a virtude da Perseverança ajudou a menina a alcançar seu sonho?
- Na falta de perseverança, o que poderia ter sido diferente nessa estória?
• E você, quais são os seus sonhos?
• O quanto você é perseverante na busca dos seus sonhos?



Humildade

Aquele que conhece os outros é sábio.
Aquele que conhece a si mesmo é iluminado.
Aquele que vence os outros é forte.
Aquele que vence a si mesmo é poderoso.
Aquele que conhece a alegria é rico.
Aquele que conserva seu caminho tem vontade.

Seja humilde e permanecerás íntegro.
Curva-te, e permanecerás ereto.
Esvazia-te, e permanecerás repleto.
Gasta-te, e permanecerás novo.

O sábio não se exibe, e por isso brilha.
Ele não se faz notar, e por isso é notado.
Ele não se elogia, e por isso tem mérito.
E porque não está competindo, ninguém no mundo pode competir com ele.



Para refletir e discutir:
• Às vezes as pessoas têm posturas que são chamadas de falsa-humildade. O que isso significa?
• Como podemos perceber que o outro é humilde?
• Relacione os dois textos. Quais aspectos da humildade eles apresentam? Podemos observar a existência da humildade em nosso dia a dia? Justifique.




Escolhendo o destino

Há muitos anos, vivia um homem que era capaz de amar e perdoar a todos que encontrava em seu caminho. Por causa disso, Deus enviou um anjo para conversar com ele.
- Deus pediu que eu viesse visitá-lo, para lhe dizer que Ele quer recompensá-lo por sua bondade – disse o anjo. – Qualquer graça que desejar lhe será concedida. Você gostaria de ter o dom de curar?
- De maneira nenhuma – respondeu o homem. – Prefiro que o próprio Deus selecione aqueles que devem ser curados.
- E que tal trazer os pecadores para o caminho da Verdade?
- Isso é uma tarefa para anjos como você. Eu não quero ser venerado por ninguém, nem ficar servindo de exemplo o tempo todo.
- Eu não posso voltar para o Céu sem ter lhe concedido um milagre. Se não escolher, será obrigado a aceitar um.
O homem refletiu um pouco e terminou respondendo:
- Então, eu desejo que o Bem seja feito por meu intermédio, mas sem que ninguém o perceba – nem eu mesmo, que poderia pecar por vaidade.
E o anjo fez com que a sombra daquele homem tivesse o poder da cura, mas só quando o sol estivesse batendo em seu rosto. Desta maneira, por onde ele passava os doentes eram curados, a terra voltava a ser fértil, e as pessoas tristes recuperavam a alegria.
O homem caminhou muitos anos pela Terra, sem jamais se dar conta dos milagres que realizava porque, quando estava de frente para o sol, a sombra estava sempre às suas costas. Dessa maneira, pôde viver e morrer sem ter consciência da própria santidade.



Hans, o menino pastor

Hans era um menino pastor que morava na Alemanha. Um dia, estava tomando conta de suas ovelhas perto de um grande bosque quando um caçador aproximou-se dele.
- A que distância fica a cidade mais próxima, meu menino? – perguntou o caçador.
- A seis milhas, senhor – disse Hans. – Mas a estrada é apenas uma trilha de ovelhas, o senhor poderá facilmente se perder.
- Menino – disse o caçador -, se você me mostrar o caminho, posso pagar bem.
Hans balançou a cabeça:
- Eu não posso deixar as ovelhas, senhor. Elas iriam para dentro do bosque e os lobos as comeriam.
- Mas se uma ou duas ovelhas forem comidas pelos lobos, eu pago por elas. Eu lhe dou mais do que você ganha em um ano!
- Senhor, eu não posso ir – disse Hans. – Estas ovelhas são do meu senhor. Se alguma se perde, a culpa é minha.
- Se você não pode me mostrar o caminho, então me arruma um guia? Eu tomo conta das suas ovelhas enquanto você sai.
- Não – disse Hans -, não posso fazer isso. As ovelhas não conhecem a sua voz e... – interrompeu-se.
- Você não confia em mim? – perguntou o caçador.
- Não – disse Hans. – Tentou fazer com que eu quebrasse a palavra que dou ao meu senhor. Como vou saber que vai manter a sua?
O caçador riu.
- Você está certo – disse. – Eu gostaria de poder confiar nos meus empregados como o seu patrão confia em você. Mostre-me a trilha. Vou tentar chegar sozinho à cidade.
Neste momento, vários homens saíram cavalgando do bosque e gritaram de alegria.
- Oh, senhor! – gritou um deles. – Pensamos que estivesse perdido!
Então Hans soube, para sua grande surpresa, que o caçador era um príncipe. Ficou com medo de o grande homem estar zangado com ele. Mas o príncipe sorriu e agradeceu-lhe.
Alguns dias depois, um servente do príncipe veio levar Hans até o palácio.
- Hans – disse o príncipe -, quero que você deixe as ovelhas e venha me servir. Sei que você é um menino em quem se pode confiar.
Hans ficou muito feliz com sua boa sorte.
- Se meu senhor encontrar um outro pastor para ficar no meu lugar, então virei para servi-lo.
Então, Hans voltou e cuidou das ovelhas até que encontrassem outro pastor. E serviu ao príncipe por muitos anos.


Para refletir e discutir:
• O que é ser responsável? Enumere as principais características de uma pessoa responsável.
• Analise a história do pastor Hans em relação ao que foi explicado na fundamentação sobre a Responsabilidade.
• E você, é uma pessoa responsável?



A cidade dos resmungos

Era uma vez um lugar chamado Cidade dos Resmungos, onde todos resmungavam, resmungavam. No verão, resmungavam que estava muito quente. No inverno, que estava muito frio. Quando chovia, as crianças choramingavam porque não podiam sair. Quando fazia sol, reclamavam que não tinham o que fazer. Os vizinhos queixavam-se uns dos outros, os pais queixavam-se dos filhos, os irmãos das irmãs. Todos tinham um problema, e todos reclamavam que alguém deveria fazer alguma coisa.
Um dia chegou à cidade um mascate carregando um enorme cesto às costas. Ao perceber toda aquela inquietação e choradeira, pôs o cesto no chão e gritou:
- Ó cidadãos deste belo lugar! Os campos estão abarrotados de trigo, os pomares carregados de frutas. As cordilheiras são cobertas de florestas espessas, e os vales banhados por rios profundos. Jamais vi um lugar abençoado por tantas conveniências e tamanha abundância. Por que tanta insatisfação? Aproximem-se, e eu lhes mostrarei o caminho para a felicidade.
Ora, a camisa do mascate estava rasgada e puída. Havia remendos nas calças e buracos nos sapatos. As pessoas riram ao pensar que alguém como ele pudesse mostrar-lhes como ser feliz. Mas enquanto riam, ele puxou uma corda comprida do cesto e a esticou entre dois postes na praça da cidade.
Então, segurando o cesto diante de si, gritou:
- Povo desta cidade! Aqueles que estiverem insatisfeitos escrevam seus problemas num pedaço de papel e ponham dentro deste cesto. Trocarei seus problemas por felicidade!
A multidão se aglomerou ao seu redor. Ninguém hesitou diante da chance de se livrar dos problemas. Todo homem, mulher e criança da vila rabiscou sua queixa num pedaço de papel e jogou no cesto.
Eles observaram o mascate pegar cada problema e pendurá-lo na corda. Quando ele terminou, havia problemas tremulando em cada polegada da corda, de um extremo a outro. Então, ele disse:
Agora cada um de vocês deve retirar desta linha mágica o menor
problema que puder encontrar.
Todos correram para examinar os problemas. Procuraram, manusearam os pedaços de papel e ponderaram, cada qual tentando escolher o menor problema. Depois de algum tempo a corda estava vazia.
Eis que cada um segurava o mesmíssimo problema que havia colocado no cesto. Cada pessoa havia escolhido o seu próprio problema, julgando ser ele o menor na corda.
Daí por diante, o povo daquela cidade deixou de resmungar o tempo todo. E sempre alguém sentia o desejo de resmungar ou reclamar, pensava no mascate e na sua corda mágica.


Para refletir e discutir:
• Dê exemplos em que se faz mais evidente a necessidade da tolerância.
• Como conseguir tolerar uma situação que, às vezes, tanto sofrimento traz para você e para seus familiares?
• O que a tolerância pode proporcionar à você?
• A ausência da tolerância tem conseqüência em nossa vida? Justifique.



Leia o texto “Tempo para tudo”( Eclesiastes 3,1-8)

Tudo neste mundo tem seu tempo;
cada coisa tem sua ocasião.
Há um tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derrubar e tempo de construir.
Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar;
tempo de chorar e tempo de dançar;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las;
tempo de abraçar e tempo de afastar.
Há tempo de procurar e tempo de perder;
tempo de economizar e tempo de desperdiçar;
tempo de rasgar e tempo de remendar;
tempo de ficar calado e tempo de falar.
Há tempo de amar e tempo de odiar;
tempo de guerra e tempo de paz.
]


As codornas

Há tempos, um bando de mais de mil codornas habitava uma floresta da Índia.
Seriam felizes, mas temiam enormemente seu inimigo, o apanhador de codornas.
Ele imitava seu chamado e, quando se reuniam para atendê-lo, jogava sobre elas uma enorme rede e as levava numa cesta para vender.
Mas uma das codornas era muito sábia e disse:
- Irmãs! Elaborei um plano muito bom. No futuro, assim que o caçador jogar a rede, cada uma de nós enfiará a cabeça por dentro de uma malha e todas alçaremos vôo juntas, levando-a conosco. Depois de tomarmos uma boa distância, deixaremos cair a rede sobre um espinheiro e fugiremos.
Todas concordaram com o plano. No dia seguinte, quando o caçador jogou a rede, todas juntas a içaram conforme a sábia codorna havia instruído, jogaram-na sobre um espinheiro e fugiram. Enquanto o caçador tentava retirar a rede de cima do espinheiro, escureceu e ele teve que voltar para casa.
Isso aconteceu durante vários dias, até que afinal a mulher do caçador se aborreceu e indagou:
- Por que você nunca mais conseguiu pegar nenhuma codorna?
O caçador respondeu:
- O problema é que todas as aves estão trabalhando juntas, ajudando-se entre si. Se ao menos elas começassem a discutir, eu teria tempo de pegá-las.
Dias depois, uma das codornas acidentalmente esbarrou na cabeça de uma das irmãs quando pousaram para ciscar o chão.
- Quem esbarrou na minha cabeça? – perguntou raivosamente a codorna ferida.
- Não se aborreça. Não tive a intenção de esbarrar em você – disse a primeira.
Mas a irmã codorna continuou a discutir.
- Eu sustentei todo o peso da rede! Você não ajudou nem um pouquinho! – gritou a outra.
A primeira então se aborreceu e em pouco tempo estavam todas envolvidas na disputa. Foi quando o caçador percebeu sua chance. Imitou o chamado das codornas e jogou a rede sobre as que se aproximaram. Elas ainda estavam contando vantagem e discutindo, e não se ajudaram a içar a rede. Portanto, o caçador a ergueu sozinho e enfiou as codornas dentro da cesta. Mas a sábia codorna reuniu as amigas e juntas voaram para bem longe, pois ela sabia que discussões dão origem a infortúnios.

Para refletir e discutir:
• De acordo com o texto o que garante a força e a sobrevivência de todos ? Quando um elo se quebra, pode tudo se desmoronar. O que isso significa ?
• Compare a situação apresentada no texto com a nossa realidade sócio-política atual.
• A cidadania exige participação. O que você pensa sobre isto? Dê exemplos.



Poema da gratidão (Amélia Rodrigues)

“- Senhor, nós desejamos agradecer,
agradecer tudo o que nos deste
tudo o que nos dás: o ar, o pão, a paz.
Gostaríamos de agradecer-te a beleza
que vislumbramos nos painéis da natureza;
agradecer-te a visão,
a felicidade de poder enxergar.
Com os olhos vemos a terra,
Vemos o céu,
Detemo-nos no mar,

Graças à misericórdia da visão, Senhor,
podemos contemplar o nosso amor.
No entanto, diante de nossa claridade visual,
há os que não têm amanhecer,
e se debatem nas trevas
sem a hora matinal.
Deixa-nos por eles orar.

Muito obrigado, Senhor,
pelos ouvidos meus,
ouvidos que me foram dados por Deus
e que ouvem o tamborilar da chuva no telheiro;
a melodia do vento
nos ramos do salgueiro;
as lágrimas que choram
nos olhos do mundo inteiro;
a voz melancólica do boiadeiro.
Ouvidos que escutam a melodia do povo,
que desce do morro à praça a cantar;
as melodias dos imortais
que, ouvidas, não se esquece jamais.
Pela minha faculdade de ouvir,
deixa-me pelos surdos pedir.

Muito obrigado pela minha voz,
E também pela voz que canta,
pela voz que ama,
que fala de ternura,
pela voz que liberta o homem de amargura.
Obrigado pela voz da comunicação,
pela voz que ensina,
que ilumina,
pela voz que nos dá consolação.
Mas, diante de tanta melodia,
recordo os que padecem de afasia,
os que não podem cantar à noite,
nem falar de dia.
Obrigado pelas minhas mãos,
mas também pelas mãos que amam,
pelas mãos que lavram,
que aram,
que trabalham,
que semeiam.
Pelas mãos que colhem,
que recolhem.
Pelas mãos da caridade,
da solidariedade.
Pelas mãos do amor.
Pelas mãos que cuidam as feridas,
as misérias de vida.
Pelas mãos que lavram leis,
que firmam decretos,
que escrevem poemas de amor,
que escrevem cartas,
livros, e pelas mãos da carícia.

E pelos pés que me levam a andar,
obrigado, Senhor, porque posso caminhar.
Diante do corpo perfeito
deixa-me louvar
porque vida tenho na terra,
olhando os que jazem no leito de dor,
os paralíticos,
os aleijados,
os amputados,
infelizes,
marcados, desgraçados,
deixa-me por eles orar.

Obrigado, Senhor, pelo meu lar,
meu doce cantinho,
minha tapera,
minha favela,
meu ninho,
minha mansão,
meu bangalô,
meu palácio,
meu lar de amor, meu amor.
Quem pode viver sem o amor?
Seja o amor de uma mulher,
de um irmão,
de um amigo,
de um aperto de mão.
Até de um cão.
Quem suporta a solidão?

Mas se eu não tiver ninguém,
nem um amigo para minha mão estreitar,
nem uma cama para deitar,
nem lar, nem mesmo lar,
deixa-me dizer-te, Senhor,
que tenho a ti,
que amo a vida,
que é nobre, colorida.
Deixa-me dizer que creio em ti,
dar graças porque nasci.
Obrigado, Senhor, pela Crença.
Muito obrigado, Senhor.”



Onde está Deus, está o amor (Tolstoi)


Havia numa cidadezinha um sapateiro chamado Mikail Avdeievitch. Morava num porão cuja única janela dava para a rua, na altura do chão. Embora visse apenas os pés de quem passava pela rua, Mikail conhecia todas as pessoas pelos sapatos que usavam. Como já era velho e competente em seu trabalho, era raro um par de botas que não houvesse passado por suas mãos, fosse para um remendo, uma meia-sola ou para colocar um novo cano. Assim, era comum ver passar pela janela uma obra sua.
Mikail estava sempre muito ocupado, pois trabalhava com perfeição, usava material de boa qualidade, não cobrava caro e entregava no prazo prometido. Por isso todos o estimavam e nunca lhe faltava serviço.
Sempre fora um homem bom mas, ao envelhecer, começou a se preocupar com sua alma e quisera se aproximar de Deus. Sua mulher tinha morrido quando ele ainda era aprendiz, deixando um filho de três anos. Haviam tido outros filhos antes, mas todos tinham morrido. Ao se ver só com o menino pensou em mandá-lo para casa de um tio, na aldeia, mas ponderou: “será muito triste para o pequeno Karp viver longe de mim. É melhor ficar mesmo comigo.”
Pouco tempo depois, despediu-se do patrão e abriu sua própria oficina. Deus, porém, não velava muito por seus filhos. Quando o que lhe restara se tornou rapaz e começou ajudá-lo, adoeceu e morreu em uma semana.
Mikail enterrou o filho. A perda feriu-lhe de tal modo o coração que chegou a murmurar contra a justiça divina. Sentia-se tão infeliz que implorava a Deus que lhe tirasse também a vida. Censurava o Senhor por não levar a ele, que já era velho, em lugar do filho único tão querido, e deixou de ir à igreja.
Um dia, na época da Páscoa, chegou à casa do sapateiro um conterrâneo seu que há oito anos percorria o mundo como peregrino. Conversaram muito tempo e Mikail se queixou amargamente da sua desgraça.
- Perdi o desejo de viver, agora só espero a morte. Peço a Deus que me leve, pois não tenho mais ilusões na vida.
- Não fale assim, Mikail. Os homens não devem julgar a vontade do Senhor, pois suas razões estão acima do nosso entendimento. Se Ele decidiu que seu filho morresse e você vivesse, tem que ser assim. Você se desespera porque só quer viver para sua própria felicidade.
- E para que viver, se não para isso? – perguntou o sapateiro.
- É preciso viver para Deus. É ele quem dá a vida e para ele devemos viver.
Quando entender isso, seu sofrimento terminará e você suportará tudo com paciência e resignação.
Mikail ficou calado por um momento, e disse:
- E como se vive para Deus?
- Como Cristo ensinou. Você sabe ler? Pode aprender nos Evangelhos. Na Sagrada Escritura você encontrará resposta para todas as perguntas.
Essas palavras calaram fundo no coração de Mikail. No mesmo dia comprou um exemplar do Novo Testamento, impresso em letras bem grandes, e começou a ler.
Pretendia pegá-lo somente nos dias de folga, mas o texto lhe trazia tal consolo à alma que foi adquirindo o hábito de ler algumas páginas todos os dias. Às vezes se entretinha de tal modo que só deixava o livro quando o óleo da lâmpada terminava. Lia todas as noites. À medida que progredia na leitura, ia compreendendo com maior clareza o que Deus exigia, como viver para Deus, e a alegria penetrava docemente em sua alma.
Acostumado a ir se deitar gemendo e suspirando com a lembrança dos filhos, agora dizia:
- Glória a Deus, glória ao Senhor, pois essa foi a sua vontade.
A vida do sapateiro transformou-se completamente. Antes, nos dias de festa, ia para a taberna tomar chá e, por vezes, um gole de vodca com amigos. Nessas ocasiões saía da taberna não propriamente embriagado, mas um tanto eufórico, e dizia bobagens, chegava a insultar quem encontrava no caminho.
Agora tudo mudara. Sua vida transcorria em harmonia e paz. Punha-se a trabalhar ao amanhecer e, terminado o dia, colocava a lâmpada sobre a mesa, tirava o livro da prateleira e sentava-se para ler. Quanto mais lia, melhor compreendia e uma suave serenidade envolvia-lhe a alma.
Uma noite estendeu a leitura até bem tarde e, achegando ao capítulo VI do Evangelho de São Lucas, encontrou os seguintes versículos:
“Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. Ao que te tirar o manto, não o impeças de levar também a túnica. Dá a todo aquele que te pede; e ao que leva o que é teu, não lhe tornes a pedir. O que quereis que vos façam os homens, fazei-o também a eles.”
A seguir, leu o que o Senhor disse:
“Por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos digo? Todo aquele que vem a mim, que ouve minhas palavras e as põe em prática, eu vos mostrarei a quem ele é semelhante. É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou profundamente e pôs os alicerces sobre a rocha. Vindo uma inundação, investiu a torrente contra aquela casa e não pode movê-la, porque estava bem edificada. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou sua casa sobre a terra, sem fundamentos. Investiu a torrente contra ela e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.”
Ao ler essas palavras, seu coração se inundou de alegria. Deixou os óculos sobre o livro e apoiou os cotovelos na mesa, imerso em reflexão. Comparou seus próprios atos a essas palavras, e disse:
- Minha casa está fundada sobre a rocha ou sobre a areia? Seria bom se estivesse apoiada na rocha. A felicidade nos domina quando estamos em paz com a consciência, procedendo como Deus quer. Quando nos esquecemos de Deus podemos cair outra vez em pecado. Continuarei como estou, pois sinto que é bom. Que Deus me proteja.
Mergulhado nesses pensamentos, resolveu ir se deitar. Mas relutava em largar o livro e começou o sétimo capítulo. Leu a história do centurião, a do filho da viúva e a resposta de Jesus aos discípulos de São João. Chegou ao trecho em que o rico fariseu convidou Jesus para ia á sua casa, onde a pecadora ungiu-lhe os pés e os lavou com suas lágrimas e Ele perdoou-lhe os pecados, e leu ainda:
“E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, não me deste água para os pés; ela, com suas lágrimas me banhou os pés, enxugou-os com os cabelos. Não me deste ósculo da paz; porém ela, desde que entrou, não cessou de beijar os meus pés. Não ungiste minha cabeça com bálsamo, porém esta ungiu com bálsamo os meus pés.”
Ao ler esse versículo, Mikail pensou: “! Não lhe deu água para os pés, não o beijou, não ungiu a cabeça dele com bálsamo...” Tornou a tirar os óculos, colocou-os sobre o livro e voltou às reflexões. “Aquele fariseu deve ter sido como eu. Ele também só pensava em si mesmo – tomar o seu chá, estar agasalhado, confortável, nem um pensamento para o hóspede. Cuidava de sua vida e nem pensava no conforto do convidado. E quem era esse convidado? O próprio Deus! Se Ele viesse me visitar, eu faria a mesma coisa?”
Mikail apoiou a cabeça nos braços cruzados sobre a mesa e, sem se dar conta, adormeceu.
- Mikail! – disse uma voz de repente, sussurrando em seu ouvido. Despertou assustado. – Quem é? – perguntou.
- Olhou em volta, olhou para a porta, não viu ninguém. A voz tornou a chamar, desta vez com mais clareza.
- Mikail, Mikail! – olha para a rua amanhã, pois eu virei.
Mikail levantou-se da cadeira, esfregando os olhos, sem saber se ouvira as palavras num sonho ou acordado. Apagou a lâmpada e foi dormir.
No dia seguinte levantou-se antes, fez suas orações e acendeu o fogo para preparar a sopa de repolho e o mingau. Mantendo acesa a chama do samovar, vestiu o avental e sentou-se junto à janela para trabalhar.
Não conseguiu afastar o pensamento do que acontecera na véspera, sem saber se fora uma alucinação ou se alguém falara realmente.
- São coisas que acontecem na vida – disse a si mesmo.
Continuava a trabalhar, espiando de vez em quando pela janela e, quando passavam botas desconhecidas, levantava-se para ver o rosto da pessoa.
Passou um carregador calçando botas novas de camurça, passou um velho soldado do tempo de Nicolau, com botas de cano alto tão velhas e remendadas quanto ele próprio. Esse soldado chamava-se Stepanitch. Morava na casa de um comerciante da vizinhança, que o acolhia por caridade. Para dar-lhe uma ocupação condizente com a idade avançada, encarregara-o de ajudar o porteiro.
Stepanitch parou em frente à janela e, com uma pá, começou a tirar a neve da rua. Mikail olhou para ele e continuou a trabalhar.
- Sou mesmo um tolo – disse ele, rindo de si mesmo. – Stepanitch está limpando a neve e imagino que Cristo vem me visitar. Estou delirando. Estou louco.
Mal tinha dado dez pontos, porém, voltou a olhar pela janela e viu a pá encostada à parede e o velho soldado tentando se aquecer. “Esse infeliz está muito velho – pensou Mikail. – Já não tem forças para tirar a neve. Uma xícara de chá lhe faria bem. E o samovar está fervendo.”
Cravou a sovela no tamborete, levantou-se, pôs o samovar na mesa, colocou mais água e deu uma pancadinha na janela. Stepanitch virou-se. Mikail fez-lhe um sinal e foi a porta.
- Entre. Venha se aquecer, você deve estar com frio.
-Valha-me Deus! Muito frio! Os ossos chegam a doer – disse o velho. Sacudiu a neve dos pés, para não sujar o chão e quase caiu ao entrar, tão trôpego estava.
- Não se preocupe com a neve dos pés. Vou ter mesmo que varrer o chão; não faz mal sujá-lo. Venha, vamos tomar um chá.
Mikail serviu duas xícaras de chá escaldante e deu uma ao hóspede. Derramou um pouco no pires e soprou para esfriá-lo.
Ao terminar, o soldado colocou a xícara emborcada no pires e, em cima dela, o resto do tablete de açúcar. Agradeceu ao sapateiro, mas estava claro que tomaria de bom grado mais uma xícara do chá quente.
- Tome mais – disse Mikail, enchendo de novo as duas xícaras. A cada gole, olhava pela janela.
- Está esperando alguém? – perguntou o convidado.
- Se estou esperando alguém? Tenho vergonha de dizer a quem espero. Nem sei se tenho razão para esperar ou não, mas ontem à noite ouvi uma coisa que não me sai da cabeça. Se foi verdade ou fantasia, não sei. Sabe, meu amigo, ontem à noite eu estava lendo o Evangelho...Jesus sofreu muito entre os homens! Já ouviu falar nisso, não?
- Sem dúvida, já ouvi falar, mas sou ignorante, não sei ler...
- Pois eu estava lendo a história de Jesus na terra e cheguei à parte em que ele foi à casa de um fariseu que não o recebeu bem... Depois fiquei pensando como seria possível não receber bem Jesus Cristo. Se acontecesse a mim, nem sei o que faria em sua honra! Mas o fariseu não o tratou bem. Enquanto pensava nessas coisas, adormeci. De repente, ouvi alguém dizer meu nome. Acordei, e parecia que alguém sussurrava: “Espere, que eu virei amanhã.” Disse duas vezes seguidas. E por incrível que pareça, apesar de ter vergonha de acreditar nisso, estou esperando a visita do Senhor!
O soldado balançou a cabeça sem nada dizer, terminou de beber o chá e emborcou a xícara, mas Mikail tornou a enchê-la.
- Tome mais, o chá faz bem. Acho que o Senhor nunca rejeitou ninguém, quando andava pelo mundo. Andava com humildes, visitava os pobres. Os discípulos eram gente simples como nós, pescadores, artesãos. “O que se exalta será humilhado e o que se humilha será exaltado... Chamais-me Senhor e eu vos lavo os pés; aquele que quiser ser o primeiro deve ser o servidor dos demais. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.”
Stepanitch tinha esquecido sua xícara de chá. Era um velho sensível. Ouvindo as palavras de Mikail, as lágrimas corriam pelo seu rosto.
Vamos, tome mais – disse o sapateiro.
O soldado fez o sinal da cruz, agradeceu e, afastando a xícara, se pôs de pé.
- Agradeço muito, Mikail por me receber tão bem, satisfazendo ao mesmo tempo meu corpo e minha alma.
- Estou sempre ao seu dispor. Venha sempre que quiser, tenho prazer em recebê-lo.
Quando Stapanitch saiu, Mikail terminou seu chá e voltou a se sentar junto à janela para trabalhar.
Enquanto costurava, espiava pela janela pensando em tudo o que tinha lido, em tudo o que Jesus dissera.
Passaram dois soldados; um calçava botas do Governo e o outro botas dele mesmo. Depois passou um nobre de galochas e, em seguida, um padeiro carregando um cesto.
Apareceu uma mulher em meias de lã e sapatos de camponesa. Passou em frente à janela e encostou-se à parede. Através da vidraça, Mikail olhou aquela desconhecida com uma criança nos braços, de costas para o vento. Em vão procurava abrigar a criança, pois não tinha com que envolvê-la. Apesar do frio, a mulher usava roupas de verão, velhas e gastas.
Junto à janela, Mikail ouvia o choro do bebê e via os inúteis esforços da mãe para consolá-la. Levantou-se, abriu a porta e, indo até a rua, gritou:
- Ei, ei, você ! Está ouvindo?
A mulher voltou-se para ele.
- Não fique aí nesse frio com a criança. Entre aqui. Pode aquecê-lo melhor aqui dentro. Entre...
A mulher olhou, surpresa, aquele velho de avental e óculos na ponta do nariz que lhe fazia sinais para entrar, mas aceitou.
Desceram os degraus até o pequeno cômodo.
- Venha, sente-se aqui, junto ao fogão. Venha se aquecer para dar de mamar ao menino.
- Não tenho mais leite. Não como nada desde a manhã – disse a mulher, dando mesmo assim o peito à criança. O sapateiro olhou para o outro lado. Pegou na mesa um pedaço de pão e uma tigela, foi ao fogão e encheu a tigela de sopa. Vendo que o mingau ainda não estava bem cozido, cobriu a mesa com uma toalha, pôs os talheres e serviu só a sopa e o pão.
- Sente-se, venha comer. Eu cuido do menino. Também já tive filhos, sei lidar com crianças.
A mulher fez o sinal da cruz, sentou-se à mesa e começou a comer. Mikail deitou o menino na cama e sentou-se ao lado. O menino chorava e Milkail fingiu ameaçá-lo, levantando o dedo ao rostinho, mas sem tocá-lo, porque sua mão estava suja de alcatrão. Atento ao movimento do dedo, o bebê parou de chorar e começou a rir.
Enquanto comia, a mulher contou de onde vinha.
Meu marido é soldado, mas faz oito meses que o levaram e não tenho notícias dele. Trabalhei como cozinheira, mas depois que o bebê nasceu não me quiseram mais. Não trabalho há três meses; já gastei tudo o que tinha. Tentei ser ama-de-leite, mas dizem que estou muito magra e não me aceitam. Fui à casa de uma mulher, onde minha filhinha trabalha, e me prometeram trabalho, mas só daqui a uma semana... Ela mora muito longe. Fiquei muito cansada e o bebê também. Minha patroa teve pena de mim e nos deixa dormir na casa dela, graças a Deus. Senão, não sei o que seria de nós.
- Não tem uma roupa mais quente? – perguntou o sapateiro.
- Não. Empenhei meu último xale de lã ontem, por vinte copeques.
A mulher foi até a cama e pegou a criança. Mikail procurou entre as roupas penduradas na parede e encontrou um velho manto de lã.
Tome. Está bem usado, mas serve para aquecer.
A mulher olhou para o agasalho, olhou para a sapateiro e, pegando o presente, desatou a chorar. Comovido, Mikail abaixou-se e pegou um bauzinho que estava sob a cama. Remexeu o baú e sentou-se diante da mulher.
- Deus lhe pague – disse ela. – Foi Ele quem me trouxe à sua janela. Não estava tão frio quando saí, mas agora meu filho estava quase congelando. Foi Deus que fez você olhar pela janela e ter compaixão de nós. Mikail sorriu.
- Sim, foi Deus. Não olhei por acaso. E Mikail contou à mulher que ouvira a voz dizer que Jesus viria à sua casa.
- Tudo pode acontecer – disse ela levantando-se.
Pegou o manto, enrolou o menino e agradeceu, inclinando-se diante do sapateiro.
- Tome isso, em nome de Deus – disse ele, passando à mão dela uma moeda de vinte copeques. – É para resgatar o xale.
A mulher fez o sinal da cruz. Mikail imitou o gesto e acompanhou-a até a porta.
Depois da sopa, Mikail voltou ao trabalho. Enquanto manejava a sovela, espiava a rua. A cada vulto que se aproximava, levantava os olhos para ver quem era. Alguns eram conhecidos, outros não.
A certa altura, uma velha vendedora de maçãs parou à frente da janela. Restavam poucas maçãs na cesta; certamente já vendera a maior parte. Ela carregava nas costas um saco de gravetos que devia ter apanhado perto da carvoaria e agora levava para casa. Parecia que o ombro lhe doía ao peso do saco e queria trocá-lo de lado. Deixou a cesta no vão da janela e pôs o saco no chão. Enquanto se ocupava em ajeitar os gravetos dentro do saco, apareceu um garoto e roubou uma das maçãs. Antes que conseguisse fugir, a velha agarrou-o pela manga. Ele se debatia, tentando escapar, mas a velha arrancou-lhe o gorro e puxou seus cabelos. O garoto gritava e a velha estava furiosa.
Sem perder tempo em fincar a sovela, Mikail largou-a no chão e correu para a porta. Subiu os degraus aos tropeções, seus óculos caíram na correria e ele chegou à rua. A mulher batia no menino e puxava seus cabelos, ameaçando entregá-lo à polícia. O garoto continuava a se debater, negando o furto da maçã.
- Não tirei nada ! Por que está me batendo? Me solte !
Mikail separou os dois, segurou a mão do menino e disse:
- Solte-o. Perdoe o menino.
- Perdoar? Ele nunca vai se esquecer de mim. Vou levá-lo à polícia agora mesmo! Ladrão!
Por favor, solte o menino. Ele não vai mais fazer isso. Deixe-o, em nome de Cristo.
A velha soltou o garoto. Antes que ele saísse correndo, Mikail segurou-o.
- Peça perdão e nunca mais faça isso. Eu vi você pegando a maçã.
O menino começou a chorar e pediu perdão, chorando.
- Não chore. Tome, eu dou essa maçã para você – disse Mikail, tirando uma maçã de dentro da cesta e entregando-a ao menino.
- Está mimando demais esse ladrãozinho – disse a velha. – Seria melhor dar-lhe uma surra para ele se lembrar a semana inteira.
- Nós pensamos assim, mas Deus não nos julga assim. Se é certo surrar esse menino por causa de uma maçã, o que Deus terá que fazer conosco por causa dos nossos pecados?
A velha ficou calada. Então Mikail contou-lhe a parábola do senhor que perdoou a dívida do servo e o mesmo servo quis esganar um devedor. A velha e o menino ouviram atentos.
- Deus nos ensina a perdoar – disse Mikail – para sermos perdoados. Perdoar a todos, e mais ainda a um garoto sem juízo.
A velha concordou com um aceno de cabeça e suspirou.
- É verdade – ela disse – mas eles estão muito mal-educados.
- Então nós, mais velhos, devemos educá-los melhor.
- Eu sempre achei – concordou ela. – Eu tive sete filhos, e só resta uma filha – e a velha contou que morava com a filha e os netos. – Já estou velha e fraca, mas trabalho muito para cuidar dos meus netos. São crianças lindas! Tão carinhosos comigo ! Aksiutka, então, só quer ficar comigo. É só vovozinha, vovozinha querida! – enquanto falava ia ficando comovida.
- Claro que foi só criancice – ela disse, referindo-se ao garoto. - Vai com Deus, meu filho.
Estava prestes a pôr o saco no ombro quando o menino disse :
- Deixe-me levar o saco para a senhora. Também vou para esse lado.
A velha aceitou e se foram. Ela nem se lembrou de cobrar a maçã a Mikail. O sapateiro ficou olhando os dois se afastarem, conversando. Entrou em casa, encontrou os óculos caídos na escada, inteiros, pegou a sovela e voltou a trabalhar. Logo não havia mais luz suficiente para costurar e Mikail viu passar na rua o acendedor de lampiões. “Preciso acender a lâmpada”, pensou. Encheu de óleo o candeeiro, pendurou-o e continuou o serviço. Terminou uma bota, examinou-a e aprovou o trabalho. Guardou as ferramentas, arrumou os cordões e sovelas, varreu os retalhos e colocou a lâmpada na mesa. Pegou o Evangelho na prateleira. Pretendia continuar onde tinha parado na véspera, mas o livro se abriu em outra página. O sonho voltou-lhe à mente e julgou ouvir passos ou alguém se movendo atrás de si. Virou-se e teve a impressão de que havia pessoas no canto mais escuro, mas não distinguia bem quem eram. Uma voz sussurrou em seu ouvido:
- Mikail, Mikail, não me conhece?
- Quem é você? – ele murmurou.
- Sou eu – disse a voz – Sou eu – e Stepanitch saiu sorrindo do canto escuro e desapareceu, desfazendo-se numa nuvem.
- Sou eu – disse a voz mais uma vez. Surgiram a velha e o garoto com uma maçã na mão e desapareceram sorrindo. O sapateiro sentiu uma intensa alegria no coração. Fez o sinal-da-cruz, pôs os óculos e começou a ler o Evangelho na página aberta.
“Tive fome e deste-me de comer; tive sede e deste-me de beber; eu era estrangeiro e me acolheste.”
No final da página estava escrito:
“O que tiverdes feito pelo menor dos meus irmãos, é a mim que fizestes”.
Mikail compreendeu então que o seu sonho fora verdadeiro. O Salvador viera à sua casa naquele dia e ele o havia acolhido.



Conto japonês: Senhor Palha

Era uma vez, há muitos e muitos anos, é claro, porque as melhores histórias sempre se passam há muitos e muitos anos, um homem chamado Senhor Palha. Ele não tinha casa, nem mulher, nem filhos. Para dizer a verdade, só tinha a roupa do corpo. Pois o Senhor Palha não tinha sorte. Era tão pobre que mal tinha o que comer e era magrinho como um fiapo de palha. Por isso é que as pessoas o chamavam de Senhor Palha.
Todo dia o Senhor Palha ia ao templo pedir à Deusa da Fortuna para melhorar sua sorte, e nada acontecia. Até que um dia, ele ouviu uma voz sussurrar:
- A primeira coisa que você tocar quando sair do templo lhe trará grande fortuna.
O Senhor Palha levou um susto. Esfregou os olhos, olhou em volta, mas viu que estava bem acordado e o templo estava vazio. Mesmo assim, saiu pensando: “Eu sonhei ou foi a Deusa da Fortuna que falou comigo?” Na dúvida, correu para fora do templo, ao encontro da sorte.
Mas, na pressa, o pobre Senhor Palha tropeçou nos degraus e foi rolando aos trambolhões até o final da escada, onde caiu na terra. Ao se pôr de pé. Ajeitou as roupas e percebeu que tinha alguma coisa na mão. Era um fiapo de palha.
“Bom”, pensou ele, “um fiapo de palha não vale nada, mas se a Deusa da fortuna quis que eu pegasse, é melhor guardar”.
E lá foi ele, segurando o fiapo de palha. Pouco depois apareceu libélula zumbindo em volta da cabeça dele. Tentou espantá-la, mas não adiantou. A libélula zumbia loucamente ao redor da cabeça dele.
“Muito bem”, pensou ele. “Se não quer ir embora, fique comigo.”Apanhou a libélula e amarrou o fiapo de palha no rabinho dela. Ficou parecendo uma pequena pipa, e ele continuou descendo a rua com a libélula no fiapo.
Logo encontrou uma florista com o filhinho, a caminho do mercado, onde iam vender as flores. Vinham de muito longe. O menino estava cansado, suado, e a poeira lhe trazia lágrimas aos olhos. Mas quando o menino viu a libélula zumbindo amarrada no fiapo de palha, seu rostinho se animou.
- Mãe, me dá uma libélula? – pediu. – Por favor!
“Bom”, pensou o Senhor Palha, “ a Deusa da Fortuna me disse que o fiapo de palha traria sorte. Mas esse garotinho está tão cansado, tão suado, que pode ficar mais feliz com um presentinho.” E deu a libélula no fiapo para o garoto.
- É muita bondade sua – disse a florista. – Não tenho nada para lhe dar em troca além de uma rosa. Aceita?
O Senhor Palha agradeceu e continuou seu caminho, levando a rosa.
Andou mais um pouco e viu um jovem sentado num toco de árvore, segurando a cabeça entre as mãos. Parecia tão infeliz que o Senhor Palha lhe perguntou o que havia acontecido.
-Vou pedir minha namorada em casamento hoje à noite – queixou-se o rapaz. – Mas sou tão pobre que não tenho nada para dar a ela.
- Bom, também sou pobre – disse o Senhor Palha. – Não tenho nada de valor, mas se quiser dar a ela esta rosa, é sua.
O rosto do rapaz se abriu num sorriso ao ver a esplêndida rosa.
- Fique com essas três laranjas, por favor – disse o jovem. – É só o que posso dar em troca.
O Senhor Palha seguiu andando, carregando três suculentas laranjas.
Logo encontrou um mascate puxando uma carrocinha.
- Pode me ajudar? – disse o mascate, ofegante. – Estou puxando a carrocinha o dia inteiro e estou com tanta sede que acho que vou desmaiar. Preciso de um gole de água.
- Acho que não tem um poço por aqui – disse o Senhor Palha. – Mas se quiser pode chupar estas três laranjas.
O mascate ficou tão grato que pegou um rolo da mais fina seda que havia na carroça e deu-o ao Senhor Palha, dizendo:
- O senhor é muito bondoso. Por favor, aceite esta seda em troca.
E o Senhor Palha mais uma vez seguiu pela rua, com o rolo de seda debaixo do braço.
Não deu dez passos e viu passar uma princesa numa carruagem. Tinha um olhar preocupado, mas sua expressão se alegrou ao ver o Senhor Palha.
- Onde arrumou essa seda? – gritou ela. – É justamente o que estou procurando. Hoje é aniversário de meu pai e quero dar um quimono real para ele.
- Bom, já que é aniversário dele, tenho prazer em lhe dar a seda – disse o Senhor Palha.
A princesa mal podia acreditar em tamanha sorte.
- O senhor é muito generoso – disse sorrindo. – Por favor, aceite esta jóia em troca.
A carruagem se afastou, deixando o Senhor Palha segurando a jóia de inestimável valor refulgindo `a luz do sol.
“Muito bem”, pensou ele, “comecei com um fiapo de palha que não valia nada e agora tenho uma jóia. Acho que está bom.”
Levou a jóia ao mercado, vendeu-a e, com o dinheiro, comprou uma plantação de arroz. Trabalhou muito, arou, semeou, colheu, e a cada ano a plantação produzia mais arroz. Em pouco tempo, o Senhor Palha ficou rico.
Mas a riqueza não o modificou. Sempre ofereceu arroz aos que tinham fome e ajudava a todos que o procuravam. Diziam que sua sorte tinha começado com um fiapo de palha, mas quem sabe foi com a generosidade?
Justiça ( Adaptação Ziraldo )
Certo dia dois meninos famintos caminhavam por uma rua movimentada. Um comerciante, como que para testá-los, ofereceu-lhes apenas uma maçã. A fome dos garotos era tão visível que alguns transeuntes pararam para ver o desfecho da história.
O mais velho pegou a maçã e disse ao colega:
Divida a maçã em dois pedaços.
Do jeito que eu quiser ?
Sim, mas saiba que você divide e eu escolho primeiro.....
Assim fizeram os garotos e, os que pararam para ver uma briga, voltaram para casa pensando na sabedoria do que puderam presenciar.
Duas jovens comentaram baixinho:
Viu ? Acho que o que vimos é o mais claro exemplo de justiça.....


: O Sino de Atri

Atri é o nome de uma cidadezinha na Itália. Muito antiga, foi construída sobre as íngremes encostas de uma colina.
Há muito tempo, o Rei de Atri comprou um sino grande e bonito, e o mandou pendurar na torre do mercado. Foi amarrada a ele uma corda comprida, que chegava quase ao chão. Até mesmo uma criancinha seria capaz de tocá-lo puxando a corda.
- É o sino da justiça – disse o rei.
Quando estava tudo pronto, o povo de Atri celebrou o grande dia. Todos os homens, mulheres e crianças vieram ao mercado para ver o sino da justiça. Era muito bonito e foi polido até ficar tão brilhante e amarelo quanto o sol.
- Como gostaríamos de ouvi-lo tocar! – disseram todos.
O rei, então, desceu à rua.
- Talvez ele toque o sino! – disseram. E ficaram todos a esperar, imóveis, para ver o que o rei iria fazer.
Mas ele não o tocou. Nem ao menos colocou as mãos na corda. Ao chegar à base da torre, parou e levantou a mão.
- Meu povo, estão vendo este lindo sino? Pois ele é seu. Mas não deve ser tocado, a não ser em caso de necessidade. Se algum de vocês sofrer alguma injustiça, que venha tocá-lo. Os juízes se reunirão imediatamente, e ouvirão o caso, e farão justiça. Rico ou pobre, velho ou novo, todos têm igual direito de usá-lo. Mas ninguém deve tocar na corda, a não ser que tenha direito de usá-lo. Mas ninguém deve tocar na corda, a não ser que tenha sido mesmo injustiçado.
Muitos anos se passaram depois desse evento. Muitas vezes o sino do mercado foi tocado para reunir os juízes. Muitas injustiças foram sanadas, muitos culpados foram punidos. Depois de muito uso, a corda de cânhamo estava bastante desgastada. A extremidade inferior se destorcera; alguns dos fios haviam se partido; estava tão curta que somente um homem alto conseguia alcançá-la. Até que um dia os juízes disseram:
- Isso não pode ficar assim. E se uma criança for injustiçada? Não conseguirá tocar o sino para nos informar do acontecido.
Deram ordem para que fosse colocada imediatamente uma corda nova no sino; uma corda que chegasse até o chão, para que uma criancinha pudesse alcançá-la. Mas não se encontravam cordas em Atri. Precisavam enviar alguém até o outro lado da serra para trazer uma nova, e isso levaria alguns dias. E se alguma afrontosa injustiça fosse cometida antes de sua chegada? Como os juízes seriam avisados caso o injustiçado não alcançasse a corda antiga?
- Deixem-me solucionar o problema – disse um dos homens ali presentes.
Foi até seu jardim, que não ficava longe, e logo retornou com um grande ramo de videira nas mãos.
- Este ramo servirá de corda – disse ele. E subiu a torre, amarrando-o ao sino. O ramalho fino, com folhas e gavinhas ainda penduradas, chegava até o chão.
- Muito bem! Disseram os juízes. – É uma corda muito boa. Assim seja.
Ora, na parte superior da colina onde ficava o vilarejo, morava um homem que fora um corajoso cavaleiro. Em sua juventude, cavalgara por muitas terras e empreendera muitas batalhas. Seu melhor amigo em todo aquele tempo fora a montaria: um corcel forte e altivo, que o conduzira em segurança diante de muitos perigos.
Mas o cavaleiro, com a idade, não mais se entretinha participando de batalhas; não mais se importava com grandes feitos; só pensava em ouro; tornara-se avarento. Acabou vendendo tudo que tinha, exceto o cavalo, e foi morar numa choupana no alto do morro. Passava dias a fio sentado entre as sacolas de dinheiro, planejando o que fazer para conseguir mais ouro. E o cavalo passava os dias na cocheira vazia, faminto e tremendo de frio.
- De que me vale ficar com aquele corcel inútil? – disse o sovina consigo mesmo, um certo dia. – A cada semana que passa, gasto mais do que ele vale só para sustentá-lo. Seria bom vendê-lo, mas não há quem o compre. Não conseguirei nem a quem doá-lo. Vou soltá-lo para que cuide de si, e que coma a relva da beira da estrada. Se morrer de fome, melhor assim.
O velho e destemido corcel foi, então, solto para viver do que encontrasse entre as pedras da árida colina. Coxeando, o animal doente partiu pelas estradas poeirentas, ficando satisfeito quando encontrava um rufo de grama ou cardo. Os meninos atiravam-lhe pedras, os cães ladravam quando passava, e no mundo inteiro não havia quem dele se apiedasse.
Uma tarde calorenta, sem ninguém nas ruas, o cavalo teve a oportunidade de ir para o mercado. Não havia adultos nem crianças, pois o calor os afugentara. Estavam todos em suas casas. Os portões estavam escancarados; o pobre animal podia passear por onde quisesse. Avistou o ramo da videira pendurado no sino da justiça. As folhas e gavinhas ainda estavam frescas e verdinhas, pois fazia pouco tempo que o galho fora cortado. O cavalo faminto viu nelas uma ótima refeição!
Esticou o pescoço magro e abocanhou um bom pedaço. Foi difícil arrancá-lo do ramo. Ele deu alguns puxões e o grande sino começou a tocar. Todos na cidade o ouviram. Parecia estar dizendo:
Alguém, alguém errou!
Alguém, alguém errou!
Oh! Venham ouvir meu caso!
Oh! Venham ouvir meu caso!
Pois fui injustiçado!
Os juízes ouviram o sino tocar. Vestiram suas batas e desceram as ruas quentes até o mercado. Estavam curiosos por saber quem o tocaria numa hora daquelas. Ao cruzarem os portões, depararam com o velho cavalo mordendo o ramo.
- Ora, essa! – exclamou um deles – É o corcel do avarento. Veio clamar por justiça, pois seu dono, como todos sabem, tratou-o vergonhosamente.
- Ele está reclamando seus direitos, como qualquer sujeito ignóbil faria – disse outro.
- E terá justiça? – disse um terceiro.
- Entrementes, juntara-se uma multidão de homens, mulheres e crianças no mercado, todos ansiosos por conhecer a causa que os juízes iriam analisar. Ao avistarem o cavalo, ficaram pasmos. E logo se puseram a contar suas histórias; que o tinham visto vagando pelas colinas, faminto, sem trato, enquanto o dono ficava em casa contando e recontando todo o ouro que tinha.
- Tragam o avarento à nossa presença – disseram os juízes.
E quando ele chegou, fizeram-no ouvir de pé o julgamento;
- Este cavalo serviu-lhe muito bem durante vários anos. Salvou-o de muitos perigos. Ajudou-o a obter sua riqueza. Portanto, ordenamos que metade do seu ouro seja dedicada a comprar-lhe abrigo e comida, uma área de pasto verdejante e uma cocheira onde possa se proteger do frio e ter conforto na velhice.
O avarento baixou a cabeça e lamentou-se por perder seu ouro. Mas o povo gritava de alegria, e o cavalo foi levado para sua nova cocheira e recebeu muita comida, pois havia dias em que não encontrava o bastante.


: O toque de ouro

(Adaptação de Nathaniel Hawthorne)

Era uma vez um rei muito rico chamado Midas. Ele possuía mais ouro do que qualquer outro no mundo inteiro, mas ainda assim não estava satisfeito. Nada o deixava mais feliz do que conseguir acrescentar um pouco mais à sua riqueza. Mantinha-o todo guardado em enormes cofres nos subterrâneos do palácio, e passava muitas horas por dia contando e recontando seu tesouro.
O Rei Midas tinha uma filhinha chamada Áurea. Amava-a com verdadeira devoção, e dizia: “Ela será a princesa mais rica do mundo!”
Mas a pequena Áurea nem se importava com isso. Adorava seu jardim, as flores e o sol, mais do que toda a riqueza do pai. Ficava sozinha a maior parte do tempo, pois o pai estava sempre ocupado, buscando novas formas de conseguir mais ouro, e contando o que possuía, de tal sorte que quase nunca tinha tempo para contar-lhe histórias ou passear, conforme deveriam fazer todos os pais.
Um dia, o Rei Midas estava na sala do tesouro nos subterrâneos do castelo. Havia trancado as pesadas portas do aposento e aberto os enormes baús. Despejou todo o conteúdo sobre a mesa e pôs-se a brincar com o ouro como se o simples toque o deixasse satisfeito. Fazia-o escorrer entre os dedos e sorria ao ouvir o tilintar das peças, qual doce melodia. De repente, uma sombra se projetou sobre a pilha de objetos. Ao levantar os olhos, deu com um estranho trajando roupas brancas brilhantes e sorrindo para ele. Soergueu-se, surpreso. Não se esquecera de trancar as portas! O tesouro, então, não estava seguro! Entretanto, o estranho continuou sorrindo.
- Vossa excelência tem muito ouro – disse ele.
- Tenho, sim - disse o rei -, mas é pouco comparado a todo o ouro que existe no mundo!
- Ora! Esse ouro todo não satisfaz a Vossa Excelência? – Perguntou o estranho.
- Ora, essa! – respondeu o rei – Mas é claro que não estou satisfeito. Passo longas noites acordado planejando novas formas de conseguiu mais. Gostaria de poder transformar em ouro tudo que toco.
- É isso que Vossa Excelência realmente deseja?
- Claro que sim! Nada haveria de deixar-me mais satisfeito.
- Pois o desejo de Vossa Excelência será atendido. Amanhã de manhã, quando os primeiros raios de sol adentrarem os aposentos, Vossa Excelência terá o toque de ouro.
Ao terminar de falar, o estranho desapareceu. O Rei Midas esfregou os olhos. – Devo ter sonhado – disse ele -, mas como eu ficaria se isso fosse verdade!
No dia seguinte, o Rei Midas acordou quando a primeira luz do dia se fez presente em seus aposentos. Esticou a mão e tocou as cobertas da cama. Nada aconteceu. – Eu sabia que não poderia ser verdade – exclamou, desapontado. Naquele exato momento, entraram pelas janelas os primeiros raios de sol. As cobertas onde estava encostada a mão do rei transformaram-se em ouro puro. – É verdade! É verdade! – gritou ele, muito contente.
Saltou da cama e correu pelo aposento tocando em tudo que havia. O manto real, os chinelos, os móveis, tudo virou ouro. Foi até a janela e olhou para o jardim de Áurea. – Vou fazer-lhe uma surpresa- disse ele. Desceu para o jardim e tocou rodas as flores da filha, transformando-as em ouro. – Ela ficará muito satisfeita – pensou.
Voltou aos seus aposentos para aguardar a chegada do café da manhã; e dispôs-se a retomar a leitura da noite anterior, mas assim que suas mãos tocaram o livro, o objeto se transformou em ouro maciço. – Não posso ler, assim - disse o rei -, mas, ora, é bem melhor ter um livro de ouro.
Naquele momento, um criado entrou nos aposentos, trazendo-lhe o café da manhã. – Que beleza ! Vou começar pelo pêssego, que está vermelhinho de tão maduro.
Pegou-o então, mas, antes de conseguir comê-lo, já se havia transformado num pedaço de ouro. O Rei Midas o colocou de volta no prato.
- É muito bonito mas não posso comê-lo! – disse ele. Pegou uma broa de pão, mas também ela se transformou em ouro. Colocou a mão no copo d’água, mas tudo virava ouro. – O que vou fazer? Tenho fome e sede. Não posso comer e beber ouro!
E logo a pequena Áurea entrou em seus aposentos. Ela estava chorando, muito sentida, e trazia nas mãos uma das rosas.
- O que houve, filhinha?
- Ah! Papai! Veja o que aconteceu com minhas rosas! Estão tão duras e feias!
- Ora, são rosas de ouro, filha. Você não acha que estão mais bonitas agora?
- Não – disse ela, soluçando. – Não têm mais o agradável perfume que tinham. Não crescerão mais. Gosto de rosas vivas.
- Não se preocupe – disse o rei -, venha tomar seu café.
Entretanto, Áurea percebeu que o pai não comia, e que estava triste.
– O que houve, meu querido pai? – perguntou ela, aproximando-se. Deu-lhe um abraço, e ele a beijou. Mas, de repente, o rei soltou um grito de pavor. Ao tocá-la, o lindo rostinho transformou-se em ouro brilhante, os olhos não viam mais, os lábios não conseguiram beijá-lo também, os bracinhos não o estreitaram. Deixou de ser uma adorável e carinhosa menina; transformara-se numa estatueta de ouro.
O Rei Midas baixou a cabeça e os soluços o sobrepujaram.
- Vossa Excelência está feliz ? – alguém perguntou. O rei levantou a cabeça e viu o estranho de pé a seu lado.
- Feliz ! Como te atreves a perguntar uma coisa dessas? Sou o homem mais triste da face da Terra ! – disse o rei.
- Vossa Excelência tem o toque de ouro. E isso não basta?
O Rei Midas não tornou a olhar o estranho, nem respondeu.
- O que Vossa Excelência prefere: comida e um copo d’água fresca ou essas pedras de ouro?- disse o estranho.
O Rei Midas não conseguiu responder.
- O que preferes ter, ó Majestade? Aquela estatueta de ouro ou uma menininha que pode correr, rir e amá-lo?
- Ah! Devolva-me minha filhinha Áurea e eu abdicarei de todo o ouro que tenho! – disse o rei. – Perdi a única coisa que realmente me valia ter.
- Vossa Excelência demonstra agora mais sabedoria do que antes – disse o estranho. – Vá mergulhar no rio que passa nos fundos do jardim, e depois leve um pouco de água para jogar sobre tudo aquilo que deseja ter de volta ao normal. O estranho, então, desapareceu.
O Rei Midas levantou-se rapidamente e foi correndo até o rio.
Mergulhou, pegou um bocado de água e retornou ao palácio. Jogou-a sobre Áurea e as cores voltaram a iluminar seu rosto. Ela tornou a abrir os olhinhos azuis. – Ora, papai! – disse ela – O que aconteceu?
Chorando de alegria, ele a pegou no colo.
Depois disso, o Rei Midas nunca mais se preocupou com ouro algum, a não ser o ouro que existe no brilho do sol e nos cabelos da pequena Áurea.



Para refletir e discutir:
• Qual mensagem você retirou da música Tocando em frente?
• Em que passagens você pode perceber a temperança no agir?
• E na história do Rei Midas? Relacione essa história à realidade que vivemos atualmente. Que contravalor é exemplificado nesse conto? Em que ele se contrapõe à temperança ?
• A temperança é importante para nossa vida? Por quê ?



Música : Tocando em frente ( Renato Teixeira)

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei,
que nada sei.

Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor para poder pulsar, é preciso paz para poder sorrir
É preciso a chuva para florir.

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu sou
Estrada eu vou.

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega e o outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz.



As rãs e o poço (fábula de Esopo)

Duas rãs viviam num pântano. Mas no verão o pântano secou e elas foram procurar outro lugar para morar. Chegaram perto do poço. Uma disse:
- Parece um lugar gostoso e úmido. Vamos pular e fazer nossa casa. Mas a outra retrucou: - Vamos com calma, amiga. Se este poço secar, como vamos sair e pular?
(É bom pensar duas vezes antes de agir)


Para refletir e discutir:
• A fábula nos fala sobre a importância da prudência em nossa vida.
• O que significa prudência? Ela é necessária? Por quê?
• Como posso saber que a minha atitude em determinada situação foi prudente?
• que preciso fazer para ser prudente?
• Você conhece outras histórias que exemplificam uma postura de prudência?
“Ser prudente é estar entre o excesso e a ausência”. Comente a afirmativa



História sobre a paz

Um rei ofereceu um grande prêmio para o artista que melhor pudesse retratar a idéia da paz. Muitos pintores enviaram seus trabalhos ao palácio, mostrando bosques ao entardecer, rios tranqüilos, crianças correndo na areia, arco-íris no céu, gotas de orvalho em uma pétala de rosa.
O rei examinou todo o material que lhe foi enviado, mas terminou selecionando apenas dois trabalhos.
O primeiro mostrava um lago tranqüilo, espelho perfeito das montanhas poderosas e do céu azul que o rodeava. Aqui e ali se podiam ver pequenas nuvens brancas, e, para quem reparasse bem, no canto esquerdo do lago existia uma pequena casa, a janela aberta, a fumaça saindo da chaminé – o que era sinal de um jantar frugal, mas apetitoso.
O segundo quadro também mostrava montanhas. Mas estas eram escabrosas, os picos afiados e escarpados. Sobre as montanhas o céu estava implacavelmente escuro, e das nuvens carregadas saíam raios, granizo e chuva torrencial.
A pintura estava em total desarmonia com os outros quadros enviados para o concurso. Entretanto, quando se observava cuidadosamente o quadro, notava-se, numa fenda da rocha inóspita, um ninho de pássaro. Ali, no meio do violento rugir da tempestade, estava calmamente alojada uma andorinha.
Ao reunir sua corte, o rei elegeu esta segunda pintura como a que melhor expressava a idéia da perfeita paz.
E explicou:
- Paz não é aquilo que encontramos em um lugar sem ruídos, sem problemas, sem trabalho duro, mas é aquilo que permite manter a calma em nosso coração, mesmo no meio das situações mais adversas. Este é seu único e verdadeiro significado.

Para refletir e discutir:
• Você deve estar surpreso. Talvez nunca achasse que poderia existir paz num ambiente tão ameaçador. O que é a paz para você ?
• E você, vive em paz, apesar de tudo que lhe rodeia? É possível obter e viver em paz?
• Em meio a uma sociedade tão violenta o que podemos fazer para despertar a vivência da paz?
• Montar atividades coletivas para trabalhar a Não-Violência?


TEXTOS RETIRADOS DO PROJETO VIVA E DEIXE VIVER

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