domingo, 7 de março de 2010

TEXTOS

ELF

Marlene B. Cerviglieri



Esta estória começa no alto de uma árvore...

Lá em cima morava o Elf, o mais brincalhão do quintal todo.
Ah! Vocês não sabem quem é o Elf?
Pois bem, é uma pessoa bem pequenina que cuida desta arvore.
É amigo de todos os bichinhos, pássaros e de vocês também.

Um dia um menino resolveu se esconder e correu para o quintal.
Subiu, subiu na arvore e lá ficou sentado num galho bem forte.
Começou então a chorar baixinho, triste que estava naquele dia.

O Elf que havia acordado há pouco ouviu, e ficou quietinho bem perto do menino.
- Eu não queria ir para a escola - dizia o menino.
- Quero ficar em casa e não sair mais.
Tenho muito medo.

Aí então, o Elf foi se chegando mais e mais, tomou coragem, porque não queria assustar o menino e perguntou:
- Que medo é esse?
- De chuva, do trovão, de tudo.Ora quem me pergunta?
O Elf que era bem pequenino saltou e veio ficar no joelho dele.
- Sou eu que pergunto.
- De onde você vem? Disse o menino espantado, quase amedrontado.

- Daqui mesmo, esta é minha casa. - respondeu Elf.
Esfregando os olhos o menino não queria acreditar.
- Quer dizer que estou dentro de tua casa?
- É isso mesmo - disse o Elf - e não pediu licença para entrar.

- Desculpe, desculpe eu não sabia que arvores são casas e que tem alguém morando!
- Pensei que só pássaros podiam morar aqui.
- Também moram e fazem até seus ninhos, sempre com minha permissão - respondeu Elf.
- Veja o ninho de um casal de pássaros aqui embaixo.
- Chii...é mesmo, que bonitinho!

- Mas se chover como fica?
- Você quer dizer se nós temos medo?
- É, eu tenho medo da chuva, dos trovões e minha casa não é aberta como a sua.Como você faz?
O Elf descruzou as perninhas e disse:
- Menino, o medo mora dentro de você, porque você deixa-o entrar.

- Como? O medo é gente? Perguntou o menino.
- Mais ou menos, ele é uma coisinha muito pequena, mas que pode ficar grande que atrapalha o coração.
- Como assim? Disse surpreso o menino.
- Diga-me, quando você esta com ele o seu coração fica tão apertado que bate sem parar, pedindo espaço.

- Mas como vou dar mais espaço dentro de mim para meu coração?
- É simples.
- Então me ensine, por favor.
- Use seus olhos.
- É, os olhos.
- Quando o medo começar a querer bater em sua porta, não deixe entrar.
- O que eu faço? perguntou o menino.
- Aí é que entram seus olhos.
Abra-os.Veja, olhe bem.
Você vai ver que não há motivo para deixá-lo entrar de vez.
Quando seus olhos virem, peça ajuda aos seus ouvidos também.
Os dois juntos serão seu guia e não deixarão você se atrapalhar com o medo.

- Será fácil assim? Perguntou o menino.
-Tenho certeza que você vai aprender logo, logo.
É só praticar.

- Desce daí menino, anda logo! dizia alguém lá embaixo.
Vou soltar os cachorros, você vai ver.
- Cachorros, onde? Não os vejo.
Cachorros onde? Não os ouço.
Estão querendo que o medo entre.
Não deixarei não.

E escorregando arvore abaixo, o menino ainda ouvia as risadinhas do Elf lá em cima,
E seu coração não pediu mais espaço.


O SAPO E A FLOR...


Marlene B. Cerviglieri



Numa floresta muito grande e cheia de bichos, habitavam várias famílias de animais.
Desde insetos e até mesmos leões com suas leoas e filhotes.Todos cuidavam de suas vidas e da comida também. Os macacos eram os mais alegres, pois estavam sempre brincando e pulando de galho em galho, como se fosse uma festa.Os pássaros regiam a orquestra, pois entre tantos gritinhos, urros e barulhos dos bichos parecia mesmo uma grande orquestra.
Estava um dia o sapo tomando seu banho de sol, quando ouviu que lhe dirigiam a palavra.Logo abriu seus olhinhos procurando quem com ele estaria falando!
Eis que vê uma linda flor cor-de-rosa cheia de pintinhas...
Assim estava dizendo ela: - Nossa que coisa mais feia! Nunca vi um bicho tão feio!
- Que boca tão grande, que pele tão grossa...
- Parece até uma pedra, aí parada, sem valor nenhum.
- Ainda bem que sou formosa, colorida e até perfumada.
- Que triste seria ser um sapo!!!
O sapo que tudo ouvia ficou muito triste, pois sempre que via a flor, pensava:
- Que linda flor, tão perfumada, que cores lindas, alegra a floresta!
Mas a flor agora havia se mostrado dizendo tudo aquilo do sapo.
De repente surge o gafanhoto saltitante e vê a flor, mas não o sapo.
A flor, quando o percebeu, ficou tremendo em seu frágil caule.
- Meu Deus, que faço agora?
Vocês sabem que o gafanhoto gosta de comer as pétalas de qualquer flor que encontre, e ela seria assim sua sobremesa...
O sapo, quietinho, quietinho, não se mexeu, e quando o gafanhoto se aproximou da flor, nhac... o alcançou com sua língua.
A flor que já se havia fechado, pensando que iria morrer, abriu-se novamente não acreditando no que havia acontecido.
Mas dona árvore que desde o início a tudo assistia, falou muito energicamente e brava lá do seu canto:
- Pois é dona flor, veja como as aparências enganam.Tenho certeza que a senhora gostaria mais do elegante e magrinho gafanhoto. No entanto, veja como ele teria sido tão mau com a senhora!
Às vezes pensamos e dizemos coisas sobre nossos semelhantes que não são verdadeiras. Precisamos tomar muito cuidado com o que falamos, sabe por que?
- Não - dizia a flor ainda tremendo de susto.
- Todos nos somos diferentes, de formas diferentes, e até pensamos diferente.
- Você sabe que existem também outras formas de se falar?
- Não. Não sabia - disse a flor espantada com a sabedoria da árvore.
- Pois então minha pequena, da próxima vez que for falar de alguém, pense antes, pois este alguém poderia ser você.
- Agora agradeça ao seu amigo sapo o favor que ele lhe fez, e também conte aos outros o que aprendeu aqui hoje.
Com sua vozinha fraca a flor disse ao sapo:
- Meu amigo, você é, realmente, amigo. Agradeço-lhe ter me salvado do gafanhoto e prometo que nunca mais falarei de ninguém.
- Aprendi a lição e dona árvore me ensinou também.
Todos os bichos que estavam assistindo bateram palmas.
E assim amiguinhos, aqui fica a lição: somos todos iguais. Existem bons e maus, mas podemos escolher de que lado vamos ficar.....

FILHOTINHOS DA RUA

Marlene B. Cerviglieri




A noite estava fria e chuvosa como sempre é no inverno. As calçadas molhadas, o céu muito escuro dando até medo. Naquela praça existiam várias casas bonitas, todas com grandes escadas.
Como toda praça, aquela tinha arvores frondosas, onde muitos pássaros moravam em seus ninhos, cuidando de seus filhotinhos.
Num galho, bem alto de uma destas arvores, estava a Coruja com seus olhos enormes, atenta aos movimentos pronta para sua caça.
Ali não era sua morada, pois coruja mora no chão. Fazem um buraco e formam suas ninhadas. É divertido ver as moradias das corujas, principalmente a noite quando resolvem sair.
Bem, mas não estou a fim de falar sobre corujas. É ela quem vai nos contar a estória dos filhotinhos.
Lá do alto da árvore via toda a rua, e assim viu quando uma cachorrinha vinha chegando bem morosamente, quero dizer devagarzinho.
Olhou para as casas com um olhar triste e nesta olhada viu a coruja toda pomposa no alto da árvore
- Oi amiga, qual escada será melhor para eu dormir esta noite?
- Eu diria que qualquer uma. Nesta noite fria o melhor seria entrar na casa, não é mesmo?
- Claro, sem duvida minha amiga! Mas como vou entrar? Tudo tão bem fechado... e se me descobrem me chutam para fora.
- Sabe amiga cachorrinha, aprendi que nesta vida precisamos querer alguma coisa. Mas devemos merecer isto, não é só querer!
- Já vi que você com toda a sua sabedoria irá me ensinar, como?
- Simples, minha cara.
- Primeiro: você quer, realmente, entrar nesta casa?
- Claro, não estou para brincadeiras!
- Nem eu! - disse a coruja já andando impaciente em seu galho.
- Pois então me escute.
- Primeiro devemos ter certeza do que queremos depois verificar se é possível e se vai valer o esforço.
- Bem, querer eu quero, pois se agora estou morrendo de frio, imagine mais tarde.
- Então, minha cara, tente alguma coisa e vá em frente.
A cachorrinha olhou para a enorme porta. Farejou e até sentiu cheiro de comida, de tanta fome que tinha.
Pensou: - Se eu latir incomodo e aí me mandam embora.
Bater na porta, como?
É, parece que o esforço terá que ser bem maior.
Desceu as escadas, e para espanto da coruja foi embora.
- Eu sabia - pensava a coruja - já desistiu. Não esperou nem por um pedacinho de pão!
- Eu fico aqui horas esperando uma caça, mas fico...
Eis que dali uma hora, mais ou menos, aparece de novo a cachorrinha seguida por seus quatro filhotinhos.
Subiram as escadas, e começaram a brincar bem em frente a porta.
Logo esta se abriu, e duas crianças gritaram de alegria. Pegaram os filhotinhos no colo e levaram todos para dentro.
- Mas meus filhos, não podem ficar com todos! dizia a mamãe já preocupada.
- Papai achará uma solução. Poderá levar dois ou três para o depósito. Vamos dar leite para os filhotinhos e comida para a mamãe deles.
E assim a cachorrinha ficou morando no deposito com dois filhinhos, os outros ficaram na casa.
É dona coruja, seu julgamento foi errado e muito precipitado.
Cada um tem seu jeito de resolver os problemas. Devemos dar-lhes liberdade de pensamento, ou seja, deixar cada um pensar do seu modo. Nunca devemos julgar os outros. Espere antes de falar porque, às vezes, você tem uma bela surpresa.
O que você nunca havia imaginado o outro imaginou!


O HOMEM DO SACO
Marlene B. Cerviglieri
O dia tinha sido muito lindo, com um sol gigante e um céu muito azul.
Todos nós tínhamos jogado bola, pulado obstáculos, corrido muito, enfim brincamos prá valer.
Combinamos que depois de jantar nos reuniríamos na calçada para contar histórias.
Como me lembro bem deste dia!
Mas e daí conte como foi, estou ficando muito curiosa.
Bem, nosso dia já havia sido perfeito com tantas brincadeiras.
Fomos chegando um a um, já de banho tomado, com uma boa refeição no estomago.
Sentamo-nos na beirada da calçada embaixo de uma frondosa árvore, tornando assim a noite mais escura.
- Que vamos fazer então?
- Jogar fubecas? Ah, isso não - responderam todos.
Depois de muita discussão, chegamos à conclusão de que seria melhor contarmos histórias.
Foi então que ouvi a história do homem do saco.
Era uma família de três irmãos, o pai e a mãe. Moravam em uma residência muito graciosa.
Não lhes era permitido juntar-se aos garotos que brincavam na rua.
“Por que?”
Bem não sei muito bem, mas o pai era uma pessoa muito diferente dos outros pais.
Nunca ninguém ia brincar na casa e as portas e janelas raramente se abriam.
Às vezes podia se perceber que havia alguém por trás da janela espiando, mas nada se sabia a respeito.
Tinham um cachorro grande, muito feio, que rondava a casa dia e noite, e nunca latia.
Naquele tempo recebia-se carvão em casa e pedras de gelo para a geladeira e até mesmo leite em garrafas especiais.
O gelo chegava em uma carrocinha sempre pingando, e era lançado porta adentro. O leite ficava no portão do lado de fora da casa.
“Espera um pouco, ninguém levava?”.
“Não, nunca soube disto”.
Mas, continuando, o carvão vinha em sacos especiais.

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Conta-se que certo dia, ao chegar na casa, antes que deixasse o saco de carvão, o carvoeiro ouviu um choro sentido que vinha lá de dentro.
Parou e ficou escutando.
Não precisa chorar mais, dizia alguém. Ele logo irá embora.
- Tenho medo dele - suspirava a criança.
- Pare, senão ele não vai embora.
Fez-se um silencio e o carvoeiro deixou o saco no lugar e se foi. Ficando intrigado com isso, pensou:
“- Da próxima vez vou ficar escutando para ouvir do que a criança tem medo. Será que é de mim”?
E assim foi feito.
Deixou o saco de carvão, fez que ia embora e não foi.
- Pronto - dizia alguém lá dentro- ele já se foi.
- Você viu? Ele traz o saco nas costas e fica esperando, se você sair ele te pega e leva embora dentro do saco.
- Ele é o homem do saco.
O pobre coitado estava ali ouvindo, atônito!
Credo, como alguém pode dizer uma coisa destas para uma criança? pensou.
Voltou para carvoaria e no final do dia depois de um bom banho, foi falar com o delegado da cidade.
Narrou a ele todos os fatos, e os dois foram até a casa.
Bateram na porta, bateram e nada de abrirem.
Finalmente, depois de muita insistência, apareceu o dono da casa.
O Delegado lhe passou um corretivo e à mulher dele também. Chamaram as crianças e apresentaram o homem do saco com todas as verdades.
Daí em diante, aquela casa ficou sendo chamada de “a casa do homem do saco”.
Até hoje ainda existem pessoas que gostam de assustar crianças com isto:

Um dois três...
O ultimo que ficar,
O homem do saco vai levar...
Fim da história.

O Docinho da Formiga

Marlene B. Cerviglieri



Num dia muito lindo, de sol e céu azul o formigueiro todo trabalhava avidamente, pois logo chegariam o inverno e tempos difíceis. A mamãe formiga trabalhava e cuidava também de suas formiguinhas, tinha muitas delas, mas uma era muito danadinha. Sempre se metia em encrenca e confusão, pois se afastava do formigueiro, de tanto que gostava de tudo saber.
Todos sabemos que é muito bom saber das coisas, mas quando somos pequenos devemos sempre ouvir os mais velhos, principalmente a mamãe, o papai, a vovó e o vovô.
- Por que?
- Ora, eles sabem das coisas! Já aprenderam antes e naturalmente vão passar para os menores.
- Bem, voltando à formiguinha Bibica, era assim seu nome,gostava muito de mexer em tudo e, às vezes, tentava carregar folhas bem maiores que ela, e conseguia, porque a formiga tem muita força.
Até ai a mamãe dela não se preocupava,mas sim com o que ela comia. Sempre estava dizendo para Bibica comer menos açúcar. Era demais como gostava de docinhos, coisas doces como dizia.
Uma tarde viu no chão umas bolinhas, comeu uma e gostou muito. Eram docinhos e foi comendo, comendo, comendo... De repente não viu mais nada, só ouvia sua mamãe chamando muito longe... Ficou assim por muito tempo. Quando finalmente conseguiu acordar já havia passado um dia inteiro.
- Bibica, disse a mamãe, que te sirva de lição formiguinha danada! Nem tudo que é docinho se pode comer! Você precisa aprender a ver e saber o que põe na boca, formiguinha danada.Não sabe o trabalho que deu, pois comeu remédio de humano. Sempre que for comer alguma coisa precisa saber o que é. Às vezes os humanos jogam remédio para nós comermos e aí é o fim! Aprenda Bibica, só coma aqui no formigueiro que é a sua casa.
Ouvindo a história toda, Luisa arregalou os olhos e disse:
- Mamãe eu só vou comer aqui em casa e nunca vou querer o docinho da formiga.
- Isso mesmo filhinha, também para comer tem que se aprender.
Agora vamos descansar um pouquinho, e não pensar no docinho da formiga.
Com histórias simples se pode evitar muitos acidentes!

Marlene B. Cerviglieri
A Lição da Dona Ratinha
Marlene B. Cerviglieri



Na toca de dona Ratinha, havia muita alegria!
Estavam felizes, pois nasceram todos os ratinhos esperados.
A mamãe ratinha radiante limpava a cria, e o papai já havia saído para ver o que poderia trazer para o jantar.
Era difícil enganar o Totó e a Jesebel, a branquinha.
Correu por entre os entremeios das cantoneiras da sala e ficava esperando uma oportunidade para poder pegar um pouco de alguma coisa para a família comer.
Cada dia ficava mais difícil, não pelo Totó, um cachorro de cor preta e bem gordinho, com tanto pelo no cara que nunca se sabia se estava dormindo ou acordado...Não dava para ver os olhos.
Um certo dia, quando os ratinhos já estavam maiores, um deles de nome Taynó, saiu e foi seguindo o pai pela casa.
Viu o Totó e levou um susto!
Mas quem deu muito trabalho mesmo foi a gatinha branca Jesebel!
Conseguiram os dois se safarem e entraram, ofegantes, na pequenina toca onde moravam todos.
Correu para a mamãe ratinha e disse ter visto uma coisa muito feia, grande cheia de pelos grandes. Não sabia nem onde começava a cabeça daquilo!
Mas a branquinha era tão lindinha!
Andava devagarzinho, seus olhos tinham um brilho!
- Meu filho você teve uma grande lição hoje, disse a mamãe ratinha.
- Eu mamãe?
- É, você mesmo.
As aparências enganam.
Quem mais nos dá trabalho é a branquinha, enquanto que o Totó dorme o tempo todo.
Ele sabe que pegamos comida do prato, mas só late não é perigoso.
Portanto preste muita atenção, e não julgue pela aparência, ela pode enganar.
Ali quietinho em seu cantinho Taynó pensava:
- Puxa eu até que gostei da branquinha e seus olhinhos brilhantes, mas vou tomar cuidado.
A mamãe sabe das coisas, e dormiu rapidamente depois de ter comido um bom bocado de queijo.
Ah, não era queijo não só tinha a aparência...


Marlene B. Cerviglieri


O CASAMENTO DA VASSOURA

Marlene B. Cerviglieri




Ali guardadinha estava a vassoura num cantinho do armário. Às vezes a tiravam e dançava muito pela casa ou quintal, ficando até tonta de tanto ir pra lá e pra cá. Mas depois ficava no cantinho até tristonha mesmo. Um dia, porém, ouviu uma vozinha que a chamava:
- Dona Vassoura, oh dona vassoura está me ouvindo?
- Sou eu, a dona Pazinha aqui do outro lado.
- Sim, estou ouvindo - disse a Vassoura até meio assustada.
- Tenho um recado para a senhora, do senhor Rodo.
- De quem?
- É do senhor Rodo.
- Ele mandou lhe dizer que gostaria de casar com a senhora!
- O que devo responder a ele?
- Ora - disse a Vassoura, pega de surpresa - Eu casar com o senhor Rodo?
- É sim. Pense e depois me dê a resposta, é só me chamar.
Dona Vassoura ficou inquieta, pensou, pensou...
- Sozinha aqui pelo menos vou ter um companheiro, nada tenho a perder, até que ele é bem simpático pois já o vi algumas vezes brincando na água.
Mais tarde a noitinha dona Vassoura chamou dona Pazinha e disse-lhe:
- Bem diga a ele que aceito, mas como será o que vamos fazer?
- Não se preocupe nós vamos arranjar tudo para o casamento.
E assim foi.
Fizeram, primeiro, a lista dos padrinhos e convidados.
- Ouça dona Vassoura, os padrinhos de seu casamento serão: o senhor Balde e eu. As daminhas serão as Flanelinhas que estão todas felizes pelo evento.
- O senhor Papel Higiênico ficou de enfeitá-la e fará uma grinalda bem linda, ele prometeu.

- O ambiente será todo perfumado pois, os Senhores Desinfetantes se incumbirão de fazê-lo. - No mais, todos os outros moradores deste armário vão contribuir. Os senhores Panos de Chão, os Tapetes, até o Sr Desentupidor irá colaborar.
- Pelo jeito já está tudo combinado, não é mesmo dona Pazinha?
- É sim. Vamos marcar para a próxima noite, certo?
- Sim, combinado.
A noite veio e o casamento foi realizado com muita simplicidade. Dona vassoura toda enfeitada. O noivo, Senhor Rodo, com a ajuda do Senhor Pano de Chão, estava muito bem enrolado, muito elegante.
Os convidados estavam felizes e a festa foi até de madrugada.
No dia seguinte, quando foi aberto o armário, estava tudo diferente!
- O que aconteceu aqui? Pensou a dona da casa...
A vassoura toda enfeitada de papel higiênico, o rodo fora do lugar...
Fechou a porta do armário e esqueceu o assunto, mas que era estranho era...
Lá dentro os convidados começavam acordar da festa de ontem, ou seja, do casamento da Vassoura...


O TATU BOLINHA


Marlene B. Cerviglieri



Hoje gostaria de contar uma história que aconteceu no jardim de minha avó.
Ela tinha muitas flores e o pouco que entendo de flores devo as lições que ela me dava.
Mas nada me impressionou tanto como a história do tatuzinho.
Estava ela regando as plantas quando eu vi um bichinho sair correndo e se enfiar na terra num minúsculo buraquinho.
Corri para minha avó e contei o que havia visto toda surpresa, pois como o bichinho iria respirar em baixo da terra!
- Calma minha linda - disse a vovó - vamos ver o que você realmente viu.
E assim começou a me falar das minhocas, formigas e outros nomes de bichinhos que vem na terra.
- Por isso - disse ela - é que uso luvas e sempre peço a você que lave as mãos com sabão depois de brincar na terra.
- Ela esconde muitas coisas que ainda nem sabemos o que é, mas que nos fazem mal.
- Como fazem mal vovó?
- Sem querer, é claro, às vezes estão apenas se defendendo, pois aquele é o mundo deles.
- Sempre que vir algo diferente fique a distância e não ponha o dedo ou a mão.
- Eles mordem?
- Não, mas pelo que sei picam e sei que vai doer muito, e é preciso depois ir ao médico para se cuidar.
- Vovó, veja o bichinho está saindo do buraquinho!
- Sei, estou vendo. Veja o que ele vai virar!
Espantada vi o bichinho virar uma bolinha!
Fiquei de boca aberta e puxando seu avental gritava para saber o que acontecera?
- Minha querida, assim como uma bolinha ele está se escondendo de nós.
- Daqui a pouco ele volta a andar e correr novamente, mas se você tocar nele, imediatamente ele se transforma em bolinha.
- Incrível vovó, nunca vi uma coisa assim! - disse eu extasiada.
Aí então veio a lição da vovó que nunca vou esquecer.
- Ouça o que a vovó tem para te dizer:
- Na vida, às vezes, temos situações quase iguais a do bichinho.
- Estamos em nossos lugares e de repente vem alguém e tenta nos ferir ou até fere, e o que fazemos?
- Nós nos escondemos de tais situações com medo de ser ferido como o bichinho, mas está errado.
- Devemos, sim, enfrentar nossos medos com cautela e resolvê-los para que não necessitemos virar bolinha.
- Você entendeu o que eu quis te dizer?
- Mais ou menos vovó.
- Quando eu tiver medo ou um problema não devo me esconder, pois ele continuará ali.
- Devo sim tentar resolvê-lo não é mesmo?
- Isso minha menina esperta, e agora pegue um vidro que vamos colher as minhocas para o seu avô ir pescar.
- Mas vovó, coitadinhas!
- Querida cada um destes bichinhos tem o seu propósito, e nós temos o nosso, mas este é um assunto para uma outra hora.
- Vamos então a nossa tarefa.
E hoje muitas vezes tento não ser o tatu bolinha...

ÁRVORE DEITADA

Marlene B. Cerviglieri


Ali no meio do parque estava a arvore deitada. Seu tronco era imenso e seus galhos pareciam ganchos esparramados ao seu redor. Mesmo assim despertava um fascínio em todos os que por ali passavam. Ninguém sabia, no entanto, que aquela mesma árvore, de mais de cem anos, tinha sido um dia frondosa cheia de folhas e de muita sombra. Sofreu por muito tempo ali deitada, não deixando transparecer que estava muito triste.
- Sou uma árvore careca. Pensava.
Realmente não tinha mais nenhuma folha em seus galhos. No dia que foi derrubada pela ventania muito forte, mas muito forte mesmo, perdeu toda as suas folhas. Ali deitada com a raiz a mostra permanecia como que calada esperando que algo mais acontecesse.
- Que será de mim agora? - pensava quietinha deitada no chão. Os pássaros não vão mais querer fazer os seus ninhos, não há mais segurança, pois estou toda sem folhas.
Quanto mais pensava mais triste ia ficando. Daí que uma manhã surgiu no parque um bando de meninos e meninas vindos de uma escola, para lá passarem algumas horas. Normalmente isto sempre acontecia. Porém naquele dia aconteceu um fato muito bonito. Interessante como diria minha professora.
As crianças depois de andarem em todos os brinquedos existentes, e de fazerem muito barulho estavam cansados demais. Que fazer? Os bancos eram de cimento e duros. Surgiu então a grande idéia.
- Veja - disse um deles - ali está uma enorme árvore!
- E deitada. - disse o outro. Parece uma cama enorme, vamos até lá.
Assim sendo subiram com facilidade na arvore deitada. Encaixaram-se tão bem em seus galhos, e lá descansaram. Quando voltaram para a escola tiveram que relatar o passeio. É claro que o assunto imediato foi a árvore deitada. Como falaram tanto dela a outra classe pediu também para ir vê-la.
Hoje a árvore deitada é procurada por muitos jovens que se sentem bem a vontade para subir nela, sentar lá em cima e descansarem. Às vezes pensamos que tudo está perdido, não terá mais solução. Engano nosso, para tudo tem jeito, é uma questão de sabermos esperar e ter paciência. Os fatos mudam nada é para sempre.
Do medo de ir para a fogueira que tinha a árvore, pois achava que não servia para mais nada. Tornou-se o lugar mais procurado do parque. Quando estiveres achando que nada mais vai dar certo, espere e verás que o conserto logo virá. Existem mil formas de ser, não necessariamente precisam ser sempre as mesmas. O difícil é aceitar as diferentes, pois as conhecidas são fáceis. No tombo mesmo permanecendo deitado, existe a transformação. Sejamos como a árvore e pensemos positivo para enfim podermos ajudar e sermos ajudados.

Marlene B. Cerviglieri
A LAGARTIXA E A BORBOLETA

Marlene B. Cerviglieri


Viviam no beiral de uma casa, dna Lagartixa e sua enorme família. Ali abrigadas se reuniam em torno de seus filhotinhos, só saiam para procurar comida. Eram muito ligeiras e apesar de seus rabinhos longos, corriam bem depressa. Certa manhã a mamãe Lagartixa saiu para procurar comida, mas avisou suas lagartixinhas que ficassem bem quietinhas, nada de dar passeio pelas janelas ou nas paredes. Lá foi a mamãe pensando que iria ser atendida por suas filhinhas. Qual nada. Assim que ela saiu, as lagartixinhas olharam umas para as outras e disseram:
- O que vamos fazer se não podemos sair daqui?
- Ora, ora vamos dar uma voltinha na janela, ver se achamos algum mosquitinho!
Seus olhinhos brilhavam só em pensar de achar um mosquitinho na janela. Uniram-se e foram. Nesta mesma manhã a Borboleta que voava no jardim, beijando todas as flores que via, resolveu dar uma paradinha no batente da janela!
Ficava pousada no vidro. Às vezes, voava para o jardim ou ficava pousada no batente da janela. As lagartixinhas, que nunca haviam visto uma Borboleta, estavam encantadas com seu vestuário e sua agilidade.
- Veja ela tem quatro cores, e os olhinhos brilham, e como vai de um lugar para outro!
- Ela está voando - disse uma delas.
- O que é voar? Perguntaram as outras.
- Ora é andar sem pôr os pés no chão...
- Ouvi dizer que os pássaros também fazem isso É mesmo?
- Pois eu acho que nós devíamos voar também!
- Você está louca! - respondeu a irmãzinha já ficando preocupada.
De nada adiantou pedir e até implorar para que ficassem quietas ali. Afinal já haviam desobedecido a mamãe. E agora ? Tentou mais uma vez falar com elas mas nada.
Sendo assim ficou num cantinho do beiral observando para ver o que elas iriam fazer. Não tinham como se apoiar e o rabinho até atrapalhava, mesmo assim se colocaram em posição quase de pé e se atiraram para o jardim. Claro que aconteceu o que se esperava, caíram pesadamente no chão. Todas doloridas, faltando pedacinho de rabo em uma, e agora? Foi quando a irmã, que não as acompanhou nesta loucura, gritou para elas:
- Esperem, vou buscar ajuda.
Assim o fez e veio com a mamãe Lagartixa. Depois de levá-las para casa e cuidar dos ferimentos, a mamãe tinha uma lição para ensinar:
- Primeiro vocês me desobedeceram, só de sair sem conhecer lá fora já foi um perigo grande. Agora vocês inventam de querer voar também?
- Mas mamãe, vimos a dna Borboleta ela faz tudo tão devagar não parecia perigoso.
- Muito bem minhas filhinhas, a dona Borboleta já nasceu para voar!
- Como assim mamãe?
- Alguns animais nascem sabendo o que fazer, é da raça dela.
- Vocês não poderiam sair por ai voando nunca, só se alguém as atirasse!
- Imaginem o Totó voando? Ou o Burrico?
- Por isso digo que cada um deve ficar no seu canto com os seus encantos.
- Encantos mamãe?
- Sim todos nós temos os nossos encantos, não precisamos copiar ninguém, pois não será a mesma coisa. Entenderam o que a mamãe disse?
Rindo responderam:
- Sim mamãe. Mas que seria muito gozado ver o elefante voando, ah seria...
Rindo apreenderam a lição e até hoje o rabinho delas ainda está crescendo. É porque as lagartixas se perdem um pedacinho, volta a crescer.
- Interessante não é?
Cada uma com os seus dons, cada um dentro de sua raça, com seus encantos.
- E você já sabe quais são os seus?


Marlene B. Cerviglieri

Saltitante como Grilo
Marlene B. Cerviglieri


Saltitante como um grilo
Atrás da bola fui correr
Não vendo a vassoura
Toda a tremer


Com um golpe de mestre
A cabeça desviei
Mas não vi a bola
E mais ninguém


Acordei em minha cama
Será que sonhei?
Mas quando tentei levantar
Ui, Ui...
O galo se pôs a cantar!

Marlene B. Cerviglieri


DE TÃO FORTE QUE CHEIROU
Marlene B. Cerviglieri

De tão forte que cheirou
O nariz arrepiou
A picada não foi grande
Mas a abelha picou

Corre, corre é pior
Todas se juntaram
Atrás do menor

Que até hoje não se sabe
Se está vive, ou foi para a melhor!


Marlene B. Cerviglieri
Texto Infantil
A cidade dos vaga-lumes

Marlene B. Cerviglieri




A cidade era muito pequena, porem seus habitantes muito unidos. Todos sabiam de tudo. O que acontecia durante o dia, era assunto para o jantar. Viviam do cultivo de suas plantações, e em geral a colheita era sempre muito boa. Havia os que plantavam laranjas, outros café e milho e mesmo cana. Alem desta plantação todos tinham sua horta particular para o sustento da família.
Ao redor das casas viam-se arvores de frutas como goiabas, maças pêras e até parreiras de uva. Sempre ao final da colheita faziam uma grande festa na rua principal. Chegou finalmente o grande dia, e as senhoras estavam muito ocupadas com tantos pratos especiais para serem feitos. A rua estava toda enfeitada, com espigas de milho e abóboras. Usavam para enfeitar tudo que haviam colhido, ficava muito interessante de se ver. A agitação corria solta, as crianças estavam alegres pulando de um lado para o outro. Creio que toda a cidade estava presente nesta festa que acontecia o dia inteiro. A noite foi chegando e a festa continuava.
Começou a escurecer e as luzes não se acendiam! Alegres que estavam não deram muita importância ao fato. Foi escurecendo mais, e ai então ficaram preocupados. Vamos ver o que esta acontecendo... Mexeram, lidaram com os fusíveis e nada de se acenderem as lâmpadas. Acabaram ficando no escuro... Foi então que começaram a ver as luzinhas piscando em todo lugar! Mas o que é isso? Estavam sem saber o que era aquilo. Devagar tudo foi ficando quase iluminado, não era como as lâmpadas mas iluminavam! Foi quando alguém gritou bem alto;
- Os vaga-lumes...
Eram vaga-lumes pulando para todo lado, participando da festa também! Riram a vontade, continuaram a festa, pois os vaga-lumes se incumbiam de iluminar um pouco. Depois disto ficou tradição na cidade, no dia da festa nada de lâmpadas. Esperavam anoitecer para ver os vaga-lumes fazerem seu trabalho. Não acreditam? Pois vão conferir.
Onde? Na cidade dos vaga-lumes....

Marlene B. Cerviglieri
O COELHINHO ESPERTO

Marlene B. Cerviglieri





Havia uma fazenda muito grande e linda. Todos que a visitavam ficavam encantados com tantos animais. Cada raça tinha seu próprio lar, quero dizer suas casinhas e ficavam juntos. Assim os porquinhos estavam sempre comendo e dormindo junto da mamãe porca. As vacas, que eram a maioria, ficavam num pasto muito amplo e criavam seus bezerrinhos. Bem afastado destes animais maiores, havia o galinheiro onde as galinhas botavam seus ovos e criavam seus pintinhos. Os patos também ficavam por perto, pois gostavam muito de dar uns mergulhos no lago próximo.
Bem lá embaixo numa descida ficavam os coelhinhos. Era uma coisa linda de se, ver as gaiolas grandes, e dentro todo o parquinho para eles brincarem.
Havia também a água corrente, muita verdura ali era colocada para que comessem. Vocês sabem que verdura é muito bom e devemos comer todo dia, assim o fazem os coelhinhos. Vejam como são espertos e saltitantes e têm muita força também. Bebem muita água e comem muita verdura e legumes. Bem, estou aqui para contar a história do coelhinho esperto não é mesmo?
Pois aqui vai: Uma manhã depois de se fartar de tanta verdura o coelhinho rajadinho, assim era chamado, pois era todo branco com algumas manchas pretas, resolveu sair da gaiola. Ah, pensou ele: quero dar uma voltinha par aprender alguma coisa mais. Saiu saltitante como são os coelhos, e foi parar bem no meio da floresta que havia na fazenda.
- Puxa que coisa maravilhosa! Quanta árvore e vegetação!
Ficou muito encantado mesmo, foi entrando cada vez mais. De repente surgiu um tatu... O coelhinho, que não conhecia nenhum outro bicho, levou um susto.
- Quem é você?
- Ora, sou o tatu! Respondeu.
O coelhinho chegou até perto, meio com medo e colocou o nariz no tatu.
- Coelhos são assim cheiram tudo.
- Puxa como você é duro!
- E você é mole. Respondeu o outro.
O tatu que era muito esperto e conhecia muitos bichos, riu do coelho.
- Veja, coelhinho, existe duro e mole...
- O quê? Perguntou o coelhinho.
- É, meu amigo, duro sou eu e mole é você.
- Ah, entendi. Quer dizer que existe diferença entre duro e mole.
- Sim, e você sente isto.
- Veja aqui outra diferença: Nós estamos embaixo da árvore, certo?
- Sim.
- E o nosso amigo lá, o passarinho, está em cima da árvore. Entendeu?
- Sim. Embaixo e Em cima.
Ficou feliz de aprender, disse adeus ao tatu e voltou pulando para sua casa.
- Meus irmãos - disse quando chegou -, aprendi muito hoje, sei agora o que é duro e o que é mole!
- Vejam - e foi dando instruções para seus irmãos -, coisas simples de se aprender.
- E você já sabe estas diferenças?
Se não souber leia novamente e o tatu irá explicar. Seja um coelhinho esperto!

Marlene B. Cerviglieri


O Tapete Mágico

Marlene B. Cerviglieri

D

Na casa não havia ninguém. Fui entrando meio assustado quase que na ponta do pé. O que teria acontecido, todos se foram? Tentei soltar um olá, mas ficou preso na minha garganta. Pensei: Não estou com medo apenas surpreso pois esperava encontrar todos ali. Sentei-me na soleira de uma das portas, e com as mãos amparando meu queixo comecei a pensar no que fazer...
Quietinho ali e sozinho, comecei a ouvir os ruídos da casa também. Não sabia que casas têm tanto barulho mesmo sem ninguém. Vinha do teto, do chão e não sei de onde mais. Prestando bem atenção deixando o medo de lado, pois ele só atrapalha, consegui perceber que eram os encanamentos que faziam o tal barulho. E o outro tipo vinha do telhado que rangia.Lembrei-me que meu avô sempre me dizia, nunca sintas o medo.Vai ver onde ele esta.
E assim vasculhei cada cantinho da casa e pude saber de onde todos os barulhos vinham. Cansado que estava e já com uma pontinha de fome, deitei-me no chão em cima de um velho tapete que ali estava. Olhando o teto, via uns lampejos de luz. Adormeci. Voei para bem longe dali num campo muito verde embaixo de um céu muito azul.
Nossa como era bom voar assim. Sentia o vento em meu rosto e podia ver tudo lá em baixo. Corri por vários parques, brinquei em muitos lugares, senti chuva vi o sol e me sentia muito contente. Voando assim pelo céu, encontrei um dragão muito grande que me perguntou de onde eu era. Lá de baixo, respondi com um pouco de dificuldade para falar.
- E você, dragão?
- Das cavernas aqui de cima. - respondeu.
- Estou com um pouco de fome. - disse eu. Será que há alguma coisa que eu possa comer?
- Sim. - disse ele.
E me trouxe uns ovos enormes que não cabiam em minhas mãos.
- Como vou comê-los? Perguntei.
- Ora menino, comendo! - e se foi.
Tentei abocanhar o grande ovo, mas nada. Continuei tentando e a fome aumentando. De repente...Bum, caí do tapete e comecei a ir em direção ao chão lá embaixo.
- Alguém me acuda! - gritava eu.
Quando senti uma mão no meu ombro estava no chão...E no chão da casa de meu avô, e ao meu redor todos riam.
- O que aconteceu? - perguntaram.
Eu, eu estava no tapete mágico. - disse. O que aconteceu realmente?
- Bem, adormeci em cima do tapete e ele voou comigo para bem longe.
O dragão era o bichano que me encontrou dormindo no seu tapete. Todos riram e eu fui comer, pois a fome era tanta, adivinhe o quê? Ovos é claro!
O Fio do Novelo



Ficava no cesto das lãs todo enroladinho no meio de agulhas e óculos. Era um novelinho de lã azul cor do céu muito lindo, mas muito triste também. O que acontecia com o novelinho de lã? Vou contar para vocês. Toda vez que o gatinho Joli podia entrar onde o cesto de lãs estava, era um estrago. Dava patadas no novelinho quase estraçalhando tudo.
Será que queria brincar? Quando ia embora o novelinho estava todo enrolado parecendo um pom pom. Pom pom é uma bolinha que se faz com lã. Ali ficava o novelinho esperando que alguém viesse e o enrolasse novamente. Isto não é vida pensava o novelinho. Preciso encontrar um jeito de não mais passar por isso.
Não faço nada para ele, gostaria apenas de brincar com ele! Assim foi passando o tempo quando um dia dona agulha que era muito esperta ,e já havia visto a brincadeira nada cordial do gatinho Joli, disse ao novelinho:
Gostaria de dar uma idéia para você.
Claro, claro diga dona agulha.
-Bem, porque você não se prepara para enfrentar o gatinho?
-Mas como deverei fazer dona agulha?
-Simples meu caro.
Desenrole um bom pedaço do seu fio de lã, deixe uma pontinha para fora do cesto.
Sim, sim disse o novelinho e aí?
Deixe que o Joli chegue e comece a brincar só com esta ponta.
-Mas ele vai querer me tirar do cesto também!
Não vai não se você der a ele o fio para brincar e enfrenta-lo dando um basta!
Mas como farei isto dona agulha?
-Quando ele avançar para você, mostre a ele o fio que você já lhe deu.
Converse com ele com bondade mostrando que não é para maltratar e sim brincar.
Será que dá certo dona agulha?
Tenho certeza caro novelinho.
Nunca deixe ninguém maltrata-lo e se tentarem faze-lo, mostre a eles tua bondade e carinho, assim sendo você terá o respeito deles.
Não permita que ninguém abuse de você fazendo o que te fere ou mesmo agredindo você.
Se não conseguir com boas maneiras e palavras, então leve ao conhecimento de alguém que possa te ajudar.
Entendeu novelinho?
Sim dona agulha vou tentar.
E o novelinho fez o que aprendeu, e para seu espanto o gatinho Joli somente brincou com o fio estendido.
Mas o novelinho estava preparado para o que viesse.
E você sabe se defender?
Acho que aprendeu não é mesmo?Não permita que ninguém maltrate você.
Não deixe que te façam mal algum, fique sempre alerta, mas procure ser amigo e cordial, nada de violência certo?
Ninguém poderá ferir você, nem você mesmo.
Até a próxima!

Marlene B. Cerviglieri
A Terra dos Anões.
Marlene B. Cerviglieri


Existe num lugar muito distante, a terra dos anões. Gostaria que você me acompanhasse para juntos chegarmos até lá. Feche os olhos suavemente sem apertá-los como se você fosse dormir. Procure deixar a boca meio entreaberta para ajudar na sua respiração.E agora vamos lá! Veja uma enorme floresta de árvores frondosas cheias de plantas tudo muito verde.
Ao redor disto tudo a neblina vai chegando. Sua cor é lilás, muito suave quase azul. Os raios do sol insistem em filtrar esta neblina, estendendo-se até o chão... Isto tudo junto nos dá a sensação de muita paz e muito silencio. Ouça os pássaros o rufar das folhas das árvores! Ouça o silencio que vai invadindo tudo. Assim relaxado você vai ouvir a história da terra dos anões.
Sentadinho embaixo de uma das árvores estava um anãozinho todo enroladinho, pois sentia frio embaixo de toda aquela neblina. Havia dormido algumas horas e quando despertou até assustou-se. Quanto tempo estaria ali? Mas o sol ainda estava teimando com a neblina, então não seria tão tarde assim. Seu nome era Igor e era ainda um menino. Muito pequenino, ainda iria crescer mais um pouco. Gostava de dar estes passeios no meio da floresta, embora às vezes sentisse um pouco de medo.
Levantou-se e com uma varinha na mão começou a vasculhar ali por perto. A vegetação era bem fechada, mas dava para se ver o chão. Raspa aqui e acolá, olha para as árvores tão altas para ele, até que de repente sua varinha bate numa coisa muito dura no chão... Deu um salto, e com cautela foi chegando para ver o que havia ali. No chão como que plantada havia uma espécie de tabua.
Ora, ora, que seria aquilo?
Muito curioso e cheio de idéias achou uma maneira de levantar a tal tabua. Força e mais força e nada da tampa sair... Resolveu cavoucar ao redor da tabua. E foi assim depois de muito tempo, que percebeu que havia resolvido o problema.
E agora tiro ou não?
O que será que está ai dentro?
Cheio de curiosidade e com um pouco de medo também, resolveu remove-la. Foi puxando de lado um de cada vez, puxando...
Pronto saiu toda!
Era um buraco!
E agora entro nele?
Mas está escuro lá no fundo...
Ficou sentadinho na beira do buraco, quando então começou a ouvir um barulho que vinha do fundo. Prestou bastante atenção e concluiu;
É o mar? Mas dentro de um buraco!
Estava tão curioso que entrou buraco adentro escorregando até o final... E, caindo numa enorme poça de água. Estava em outro lugar. Havia muitas caixas pedras diferentes parecia um depósito.
Vasculhou tudo que podia, pois o lugar era escuro. Conseguiu ver o conteúdo de algumas caixas... Estava deveras alarmado muito surpreso. Nada era como em sua terra, tudo era muito grande!
Onde estaria então? Na terra dos gigantes, seria?
Muito assustado voltou com dificuldade para a floresta. Colocou a tábua quase que no lugar, pois era pesada. Iria contar para seus pais o achado e com ajuda poderiam ver melhor tanta coisa que havia lá em baixo. Voltou para casa sujo e estava cansado. Sua casa era como as outras pequeninas de acordo com o tamanho e as necessidade deles. Contou ao pai o que havia acontecido. Para sua surpresa o pai não se alarmou.
Diga meu filho, você esta precisando de alguma coisa?
Não meu pai.
Você foi mexer onde não devia.
Há muitos anos atrás, existia ali uma comunicação com a terra dos gigantes. Foi penoso para nós, vivermos sempre nos escondendo sem termos o nosso chão. Hoje vivemos aqui e temos tudo que precisamos. Aquela terra foi soterrada pela natureza, nem sabemos se os gigantes ainda vivem. Só que eles não poderão subir pelo buraco que é muito estreito, e nós não devemos descer, pois não poderíamos trazer nada para cá, e nem precisamos!
Colocamos aquela tabua como um marco, para lembrar-nos que existiu o perigo um dia. E assim a paz voltou ao coração de Igor que já estava imaginando mil coisas sobre o tal buraco. Como é bom poder dormir embaixo da árvore, ver o sol brincar com a neblina... Para que procurarmos aventuras que depois irão nos tirar o sossego!
Chamou os amiguinhos e formaram uma turma bem grande, iria para a floresta procurar os ninhos dos pássaros e frutas silvestres, acender uma fogueira e brincar muito, muito mesmo e com muita paz. Continue relaxado, não entre no buraco não... Volte para a floresta e apanhe uns raios do sol, veja a turma de Igor brincando. Brinque também, afinal você está na terra dos anões...

BARATA E A VASSOURA


Maria Hilda de J. Alão.




Uma barata atrevida entrou, por uma janela, na casa limpíssima de uma senhora. Vendo a intrusa andando apressada pela cozinha, a senhora muniu-se de uma vassoura e passou a perseguir a barata dando vassouradas a fim de colocar para fora o asqueroso inseto. Mas a bichinha, rápida como ela só, conseguiu escapar e foi se esconder na área de serviço numa saliência da máquina de lavar.

Exausta e sem ver onde a barata se escondeu, a mulher pendurou a vassoura com o firme propósito de, no dia seguinte, continuar com a perseguição.
Anoiteceu. A barata continuava lá no seu esconderijo bem quietinha, porém o seu estômago roncava de tanta fome. O medo a fazia agüentar. Pensava:

- Seu sair agora a mulher me pega... o melhor é esperar...

E quando o silêncio se fez na casa, ela foi saindo devagar, silenciosamente. Caminhou um pouquinho. Olhou ao seu redor. Não havia ninguém. Avançou mais um pouco e, de repente, ouviu aquele barulho de cerdas duras raspando o chão: chap, chap, chap.
Olhou assustada e viu que era a vassoura, pendurada num prego, que fazia movimentos para atingi-la. Sabendo que a vassoura não podia sair dali sem ajuda, a barata partiu para a cozinha a procura de comida. Subiu pelo pé da mesa e chegou até o cesto de pães coberto com uma toalhinha branca. Infiltrou-se por baixo da toalhinha e roeu, roeu cada pão com gosto. Era um sabor indescritível.

Satisfeita, ela desceu pelo mesmo lugar que subiu. Andou, no escuro, pela casa toda deixando o seu cheiro e as fezes, em forma de bolinhas, por todos os lugares. Voltou para a área de serviço e parando diante da vassoura disse:

- Sofreste tanto para me expulsar e aqui estou eu de barriga cheia, enquanto tu, escrava, estás aí pendurada. Nada podes fazer. – e pondo as patinhas na cintura ela fez caretas para a vassoura cantando:
- nhã, nhã, nhã, nhã...

A vassoura ficou nervosa, rebolava, rebolava, mas do prego ela não saía.

- Mas que barata atrevida... e eu sem poder fazer nada...

E antes que amanhecesse e a dona da casa se levantasse e desse de cara com ela, a barata subiu pela parede da área de serviço, na direção de uma fresta do vitrô e, antes de sair e ainda rindo da vassoura, despediu-se:

- Adeus! Espero que a tua dor de cabeça sare logo... foram tantas as pancadas para me atingir... nhã, nhã, nhã, nhã...
E saiu descendo pela parede exterior do prédio rumo ao seu ninho num lugar que só ela sabe.

A BONECA ZAROLHA


Maria Hilda de J. Alão.



Era uma vez, numa loja de brinquedos, uma boneca que nasceu zarolha. Ficava exposta na mais alta prateleira, nenhuma menina a queria. Vivia triste. Via as outras bonecas serem escolhidas e levadas para casa em lindos pacotes enfeitados.
Um dia, uma boneca de cabelos louros disse:
- Sabe por que ninguém quer você? Por causa dos seus olhos. Eles são feios demais. Veja os meus – disse a convencida – são azuis, perfeitos, lindos de morrer. Logo serei levada por uma menina.
A pobre zarolhinha chorou. Queria tanto ser escolhida, levada por alguém para fazer a felicidade de uma menina. Mas, não saía da prateleira.
Um dia, já estava perto do Natal, o dono da loja resolveu colocar a boneca zarolha na vitrine repleta de outras bonecas. A loja encheu-se de crianças. Todos os brinquedos foram vendidos. Das bonecas sobraram duas: a pobrezinha da zarolha e a convencida de olhos azuis.
O dono da loja pensou:
- A outra tem chance de ser vendida, mas a zarolha não tem jeito, vou jogá-la no lixo. Ninguém quer esta boneca.
Enquanto pensava no destino que daria à boneca, reparou num homem que parara diante da vitrine, empurrando uma cadeira de rodas onde estava sentada uma pequena menina. Ela apontava para a vitrine. O homem entrou, empurrando a cadeira e pediu:
- Posso ver aquela boneca que está na vitrine?
- Pois não, senhor. Qual das duas?
- A que está à esquerda.
Admirou-se, porém não disse nada. Abriu a vitrine e entregou a zarolha nas mãos do homem que a passou para a menina. Esta, emocionada disse:
- Papai, ela é tão linda! Veja a graça dos cabelos, os braços roliços... as mãozinhas... Veja os pés... são tão mimosos! O vestido é uma beleza! A carinha é rosada, perfeita. Compra ela pra mim, papai.
E o homem comprou, pagou e saiu empurrando a cadeira onde estava sentada a criança, levando um belo pacote no colo e, dentro dele, feliz estava a boneca zarolha.
Moral: Os olhos da alma são capazes de ver a beleza que os olhos da cara não vêem.
A DISCUSSÃO DOS TALHERES


Maria Hilda de J. Alão.



Garfo, faca e colher estavam numa gaveta discutindo um assunto sério: quem era o melhor e o mais útil no mundo dos homens. A faca, vaidosa, dizia:
- Eu facilito a vida do homem. Corto coisas enormes que ele jamais poderia utilizar ou comer sem a minha ajuda.
O garfo, muito metido, disse com empáfia:
- Sem mim os homens teriam de usar os dedos para levarem os alimentos à boca, e como esquecem de lavar as mãos engoliriam tanta bactéria que teriam indigestão bacteriana.
- Você sabe por que o homem comia com os dedos?
- Não. – disse o garfo.
- Porque achavam que o alimento era sagrado e por isso devia ser comido com os dedos.
- Mas sem lavar as mãos, não é dona faca? Eu continuo dizendo que sou a ferramenta indispensável na mesa dos humanos.
A faca, nervosa, retrucou:
- Deixa de ser burro, garfo tonto. Garfo sem faca é o mesmo que relógio sem ponteiro, um não funciona sem o outro. Eu sou talher mais antigo da história! Fui feita de pedra e servia para a caça e defesa. Depois passei a ser feita de bronze, isso numa outra época.
- Eu sei, seu bobo enxerido, que o homem oriental usava pauzinho a guisa de garfo, feito de bambu e tinha um nome engraçado, hashi. Isso você não sabia. Sabia? Sei, também, que apesar de você ser antigo só chegou ao mundo ocidental no século XI, na Itália. Você foi criado pelos gregos e adotado no século VII pelo Império Bizantino. Na Inglaterra, até o início do século XVII você era considerado utensílio efeminado.
- Não fale assim de mim, dona faca. – choramingou o garfo - Eu não sou efeminado. Eu nasci para facilitar, não para complicar. Eu sei tudo isso que você falou. Sei que ainda hoje, entre os orientais, permanece o uso dos pauzinhos. Com os pauzinhos o homem demorava muito tempo para comer. Cada vez que ele pegava uma porção para levar à boca, caía tudo de volta para o prato. Comigo não. Ele me enche de comida e eu entafulho a sua boca.
- Você, seu garfo, é malvado porque incita o homem a comer demais e muito rápido. O costume de comer muito e rápido é prejudicial à saúde. Os pauzinhos são uma forma de disciplinar a alimentação. Aos poucos e devagar. Com eles não se pode pegar um bolão de comida.
- Não adianta, dona faca, sem esse garfinho aqui o homem é nada vezes nada.
- Ora, não seja convencido! - exclamou a faca – às vezes você machuca a boca das pessoas.
- Ah, é!? E você que corta os dedos das crianças.
- Só das crianças desobedientes. Eu ouço sempre as mães dizendo:
- Crianças não brinquem com facas...
E o garfo exultante acrescentou:
- Viu, viu como eu sou mais útil do que você? Eu nunca ouvi uma mãe dizer: - Não peguem o garfo, crianças! Ah, ah, ah, eu sou bom demais!!!
- Pode rir seu bobo. – disse a faca amuada – o seu deboche não me atinge, porque eu sei que você também é perigoso nas mãos das crianças.
E a discussão continuou. A colher, que estava quietinha lá no seu cantinho, numa das divisões do porta-talher, interferiu:
- Dá licença!
- Pois não, dona colher – disse o garfo.
- Vocês estão nessa discussão boba de quem é melhor, quem é mais útil sem pensar que somos um conjunto. Deus permitiu que o homem tivesse a inspiração para nos criar e fazer de nós o pai, o filho e o espírito santo das cozinhas. Somos a tríade que facilita o trabalho de preparar e ingerir os alimentos. A minha história é meio nebulosa. Foram encontrados, em escavações, objetos semelhantes a mim, provavelmente, com mais de vinte mil anos. Sei que os gregos antigos utilizavam a colher de pau para preparar e comer os alimentos. Como vocês podem ver a minha história não é tão interessante quanto as suas. O que tenho certeza é que já fomos objetos rústicos, hoje somos mais modernos. Somos feitos de metal, plástico e madeira. Somos até jóias feitas em ouro e prata. Mas a nossa função é a mesma, desde que surgimos na civilização: ajudar o homem na sua alimentação.
Nós somos a união, e a união faz a força. Lembrem-se que um é complemento do outro. E se é para se gabar de utilidade, eu quero fazer uma pergunta:
- Diante de um fumegante prato de sopa, quem é o mais útil? Ah, ah, ah, ah, peguei vocês.
A DOR DE DENTE DO URSO

Maria Hilda de J. Alão.



Ai. Eu tenho um espinho no dente
Ai. Quem puder retirar qu’entre de sola
Ai. De frutos darei uma sacola,
Ai. Pra quem curar esta dor de dente.


Era assim que gemia um enorme urso marrom no meio da floresta. Os outros bichos tinham pena, porém não se arriscavam.
- Coitado! Queria muito ajudar, mas eu tenho medo porque sou tão pequeno e para alcançar o espinho preciso entrar em sua boca. – dizia um coelho branco.
- Eu também tenho medo, - disse uma anta – nunca se sabe o que pode um urso fazer. Ele já não come há dias. Sinto muito, mas não posso ajudar.
- Acho que desse jeito ele não vai parar de gemer. É certo não fazermos nada? – perguntou a raposa vermelha.
- Será que somos tão covardes? Como saber se o urso atacará quem o aliviar da torturante dor? – perguntou o leão de juba negra.
- Pelo sim ou pelo não, é melhor não arriscar. Se fosse você faria o quê? – perguntou a prudente coruja.
O leão não respondeu. O urso continuava a gemer com sua forte dor, quando chegou um caçador. Ao ver o urso, ele preparou a arma para atirar, mas percebeu que o animal gemia e não esboçou nenhum movimento de ataque. Alguma coisa estava fazendo aquele urso sofrer muito.
O urso, deitado no chão, parecia não ter notado a presença do homem. Gemia e se contorcia muito. O caçador se aproximou medroso, e oculto por um tronco, olhou, e viu espetado na gengiva do urso um grande espinho. Saiu do seu esconderijo e chegando mais perto arriscou: ele pôs a mão na cabeça do urso. Nenhuma reação brusca. Neste instante um macaco exclamou:
- Meu Deus! – e cobriu os olhos com uma das mãos para não ver o urso atacar o homem. Silêncio total na mata. O caçador, devagar, mesmo tremendo abriu a boca do urso e com uma ferramenta, puxando de uma só vez, arrancou o espinho que causava tanta dor ao bicho.
O animal soltou um urro que se ouviu muito além da floresta. Ficou ali, deitado, aliviado. Já não havia mais dor. O caçador, ainda receoso, acariciava a cabeça do urso. Em dado momento o urso se levantou. Ouviu-se, em uníssono, um “oh” de preocupação pela vida do homem.
O vento parou e todos os bichos fecharam os olhos para não ver. Quando abriram, a cena era inusitada. Aquele enorme urso lambia, agradecido, o rosto do caçador. Depois, afastou-se silencioso para o meio da floresta. Então a bicharada explodiu em aplausos para o caçador, exaltando a sua coragem, a sua humanidade, a sua sabedoria e a sua fé. O caçador partiu emocionado, e depois desse acontecimento nunca mais caçou animal algum.
AS DUAS CARTAS


Maria Hilda de J. Alão.




Faltavam duas semanas para o encerramento das aulas e as crianças do Grupo Escolar Cristo Rei tinham aulas de recreação. Todos estavam aprovados para o ano seguinte e, como disse a professora, agora era só brincadeira. Num desses dias, a professora começou a falar sobre a festa de Natal, presentes, igrejas e tudo mais que envolve esta bela data. Séria, ela perguntou aos alunos se eles já haviam escolhido seus presentes. Foi uma agitação total. Todos falavam ao mesmo tempo e ninguém entendia nada. A professora então disse:
- Calma, crianças! Falem um de cada vez para que todos possam ouvir e entender.
A ordem foi estabelecida. A primeira a falar foi a Aninha. Ela pediu uma boneca e uma bicicleta, o Arnaldo, uma bola oficial de futebol, o Marcelo queria jogos de armar, o Carlinhos, o menino com cara de intelectual, queria livros porque ler era o seu passatempo predileto. Todos estes pedidos foram enviados, através de carta, ao Papai Noel. A professora percebeu que o Pedrinho não dissera uma palavra.
- Então Pedrinho, você não pediu nada? – perguntou ela.
- Não. Este ano eu é que vou dar presente. – respondeu a criança.
- Para quem?
- Para o aniversariante!
- Pedrinho, o aniversariante é Jesus de Nazaré. Como você entregará o presente para ele.
- Ora, professora, isso é comigo e o Papai Noel. Eu escrevi pra ele e pedi pra ele entregar.
A professora ficou pensativa. Claro que a criança tinha razão, no Natal são poucas as pessoas que se lembram do aniversariante.
Enquanto isso, lá no Pólo Norte, o correio chegava com milhões e milhões de cartas de crianças pedindo de tudo. Os ajudantes do Papai Noel estavam deveras atarefados, sem tempo nem para comer. Eles precisavam abrir aquela correspondência toda antes do dia vinte e cinco de dezembro para não atrasar a entrega dos presentes. Já estavam quase no fim quando um dos ajudantes disse:
- Engraçado, aqui tem duas cartas da mesma pessoa; uma é para o Papai Noel e a outra é para... Jesus de Nazaré... e tem um pacote também endereçado a ele. – disse o ajudante de olhos arregalados porque nunca havia acontecido um fato deste.
O Papai Noel ouvindo aquilo deu a ordem:
- Abra a carta endereçada a mim.
O ajudante abriu e leu:
“Querido Papai Noel. Este ano eu não quero presentes. Tenho todos e tudo que pedi. Por isso eu só peço uma coisa: dá pro senhor entregar a outra carta e o pacotinho para o filho de Deus? Eu sei que o senhor está mais perto dele, portanto fica mais fácil. Obrigado. Feliz Natal e um beijo do Pedrinho.”
O Papai Noel ficou comovido e se apressou em atender a solicitação da criança. Entregou tudo nas mãos de Jesus Cristo. Jesus abriu a missiva e começou a ler em voz alta.
“ Senhor Jesus.
Dia vinte e cinco de dezembro é o dia do seu aniversário. Aqui na Terra todos comemoram com festas e presentes, só que eu nunca vi ninguém dar um presente pro senhor. Então eu resolvi que este ano eu vou lhe dar um. Não é uma bicicleta porque o senhor não saberia andar nas nuvens com ela, nem bola, acho que não saberia jogar, nem carrinho, nem pipa ou pião, nada dessas coisas. São as minhas ações praticadas. A obediência e o respeito, a solidariedade, o amor aos semelhantes e a fé em Deus e no senhor. Sei que não é muito porque ainda sou pequeno, mas saiba que tudo é de coração. Eu embrulhei o presente com papel de oração para que não se perca pelo caminho.
Desejo-lhe um feliz aniversário, ao lado dos seus pais e dos zilhões de amigos que o senhor tem. Ah! Não se esqueça de, quando apagar a velinha, fazer um pedido.
Um beijo do seu amigo.
Pedrinho.”

Jesus terminou a leitura. Abriu o pacotinho e lá estavam as boas ações do Pedrinho todas arrumadinhas com muito capricho. Levantou-se e foi até a janela da sua morada e olhando para baixo, deixou que as duas lágrimas que bailavam nos seus olhos caíssem sobre a Terra abençoando tudo e todos no dia do seu aniversário.
- Vovó, eu também posso mandar um presente pra Jesus?
- Pode sim. Todo o bem que você fizer, faça em nome Dele que ele irá juntando tudo e guardando no armário que cada um de nós tem no céu. Este é o melhor presente que podemos ofertar a Jesus em todos os dias da nossa existência.
AS DUAS VAQUINHAS


Maria Hilda de J. Alão.



Uma camponesa tinha um galinheiro com muitas galinhas de boa raça, algumas cabras e carneiros, um boi e duas lindas vaquinhas. Bem tratadas, as vaquinhas davam muito leite o que provocava a inveja do seu vizinho, um homem de maus bofes. Um dia, ao se levantar pela manhã, a camponesa não viu as vaquinhas no pasto.

Ficou desesperada. Saiu procurando por todos os lugares e não as encontrou. Já estava sem esperança de achar os animais quando topou com o moleque Quincas que lhe disse:
- As vacas estão com o Bastião, o homem sem coração.

E como ele sabia disso? Perguntou a camponesa com os olhos brilhando de alegria. É que na última invasão de Quincas ao pomar do Bastião, para apanhar as goiabas maduras ele viu, escondidas no fundo do curral, as duas vacas. A mulher foi falar com Bastião.
Pediu a devolução das vacas e o homem, grosseiramente, lhe disse que para devolver as vacas ela teria de “untar” a sua mão com o que ela escondia no armário da cozinha. A pobre mulher, analfabeta, não sabia o significado de “untar”, então ela foi perguntar ao juiz que lhe disse:

- Untar é passar substância gordurosa em algo ou alguém...

A camponesa voltou para sua casa e mandou avisar ao Bastião que ela iria, no dia seguinte, buscar as duas vacas. Assim fez. Chegou trazendo um caldeirão bem tampado. O homem foi logo perguntando, de olho no caldeirão:

- Vai “untar” a minha mão com aquilo que você guarda no armário da cozinha?

Ela não respondeu. Aproximou-se. O homem estendeu a mão. Ela tirou a tampa do caldeirão, meteu a mão e sacou um punhado de banha passando na mão do espertalhão dizendo:

- Pronto, já untei a sua mão! Agora quero as minhas vacas.

- Nada disso! Quando eu disse “untar” eu quis dizer “pagar” com aquilo que você guarda no armário da cozinha. – disse nervoso o Bastião.

- Acontece que “pagar” é com dinheiro, e dinheiro eu guardo no colchão e não no armário da cozinha. Eu cumpri a minha parte direitinho: “untei” a sua mão conforme o seu pedido, agora você cumpra a sua devolvendo as minhas vacas ou eu levo o caso ao conhecimento do senhor juiz.

Vendo a besteira que fizera, Bastião, que temia a severidade do juiz, devolveu as duas vaquinhas e aprendeu que aquele que se julga muito esperto é sempre o mais tolo.
A FADA E O SAPO


Maria Hilda de J. Alão.





Todas as noites uma fada ficava um tempão olhando para o céu. Sentada numa árvore ela contava as estrelas, observava as constelações, a estrela polar, o cruzeiro do sul e todas as estrelas que seus olhos mágicos podiam ver. Ficava maravilhada. Como é lindo! O espaço, para ela, era como um imenso veludo negro bordado com faiscantes diamantes. Um sonho.
Desejava poder viajar por este espaço levando a varinha de condão para fazer suas mágicas: saltar de estrela para estrela do jeito que se pula a amarelinha; unir estrelas com um traço para formar variados desenhos; fazer aparecer uma ponte ligando a Terra à Lua e levar sua casinha de vitória-régia para passar férias. Mas na Lua não existe água! Não tem importância, com a varinha mágica ela riscaria o solo e nasceria um belo rio. Estava concentrada nesses pensamentos quando uma vozinha a despertou:
- Sonhar é bom; com o possível é melhor ainda...
Era o velho sapo que vivia na margem do rio, e que, há muito tempo, vinha observando a fada sonhadora.
- Tens razão, mas sonhos possíveis e impossíveis fazem parte de mim. Por acaso não conheces as histórias de fadas, gnomos e outros seres imaginários? – perguntou ela.
- Conheço. Nesta minha longa vida eu já vi de tudo, mas o que eu quero dizer é que não se deve olhar só para cima. Experimente olhar para baixo, a beleza lá do alto está refletida aqui de forma diferente. Já prestou atenção no beija-flor; na orquídea; na vitória-régia onde você mora; no rio que serpenteia o verde da mata? Você não precisa viajar para o espaço a fim de realizar seu sonho. Veja as águas plácidas do rio!
A fadinha olhou e viu refletido, no espelho da água, o céu com toda a sua maravilha. Bateu suas asinhas de libélula e voou sobre a água ouvindo o sapo que dizia:
- Vamos menina, faça a sua mágica. Use a varinha de condão para viajar da forma que sonhou. Você tem aí o universo a sua disposição. Voe, salte, corra...
Ela voava e cantava, pulando de estrela para estrela sem tocar a água. Era o seu jogo da amarelinha. Fazia traços no ar, com a varinha, como se estivesse unindo as estrelas. A ela se juntaram todos os pirilampos e o rio tornou-se encantado com a magia das luzes do céu e da terra.
A alegria da fada e a luz dos pirilampos despertaram os bichos que se propuseram a divinizar a viagem da fadinha pelo universo que corria com as águas. Formou-se um afinado coral entoando a sinfonia da natureza. As árvores emocionadas choravam lágrimas de sereno que caiam no rio formando pequenos círculos, e os peixes não nadavam para não quebrar o encanto da cena. O canto prosseguia e cada nota emitida era uma nave espacial levando os sonhos da fadinha e de todos os viventes que, de uma forma ou de outra, passam algum tempo com os olhos pregados no céu tentando decifrar o mistério das estrelas.

A FESTA DA GRAMÁTICA


Maria Hilda de J. Alão.



Um dia dona Gramática resolveu dar uma grande festa. Queria reunir todos os membros da Língua Portuguesa. Convite feito, convite aceito. No dia marcado foram chegando os componentes da Fonética, da Morfologia, da Semântica, da Sintaxe e da Estilística e já foram formando seus grupos. Todos vestidos a caráter. Dona Gramática estava feliz com o evento. Como é bom ver os filhos reunidos em concordância.
O baile estava animadíssimo. O Ditongo dançava com a Divisão Silábica muito disputada pelo Tritongo e pelo Hiato. O Radical conversava com a Raiz enquanto observavam o animado jogo de palavras entre o Sinônimo e o Antônimo. A Conjunção, que havia bebido um pouco, não sabia se era coordenativa ou subordinativa, foi preciso a intervenção da Interjeição para acabar com a dúvida. O grupo das Vogais desafiava o das Consoantes.
O Substantivo estava numa dura queda de braço com Adjetivo, tudo num clima de amizade. O Artigo Masculino namorava, lá no cantinho escuro, com o Artigo Feminino que determina a palavra Felicidade para que ela seja eterna. A Derivação batia um papo com a Composição. Falavam das suas formações. A Derivação se acha importante porque é formada por sufixação, prefixação, parassíntese e derivação regressiva. A Composição também tem seu orgulho ora ela é justaposta, ora é aglutinada. A Oração Sem Sujeito fofocava com Oração Reduzida, o Objeto Direto deu uma rasteira no Agente da Passiva e saiu com a Regência Nominal em clima de Prosódia e Ortoépia. A Onomatopéia rodopiava pelo salão. O Eufemismo tentava suavizar as palavras para dizer à Hipérbole o quanto ela dança mal. O Pleonasmo dizia à Antítese que só acreditava naquela festa porque estava vendo com “seus próprios olhos”. A Reticência dava uma de cantora, mas era tão desafinada que o Cacófato veio correndo para calar “a boca dela”.
Lá pelas tantas, a Gramática ouviu um rumor parecido com uma discussão. Correu para o canto de onde vinha o alarido e chegou a tempo de ver e ouvir o Verbo gritando:
- Eu vou falar, eu quero falar.
A Gramática interferiu.
- Meu filho qual é o problema?
Nesse momento já havia parado a música e todos estavam aglomerados em torno da Gramática e do Verbo.
- Desde que eu cheguei nesta festa que ouço vocês contando vantagem. Um é isso, outro é aquilo. Porque um é melhor e o outro pior. Droga! Nós somos uma família. Pertencemos ao mesmo idioma, sendo assim um não pode ser melhor que o outro. Nenhum brilha mais que o outro.
Foi nesse momento que o Verbo Auxiliar aplaudiu:
- Bravo companheiro. É isso aí. Onde já se viu uma coisa dessas. Já pensou se cada elemento de um idioma começasse a dizer que é o tal? Seria uma Babel.
Todos ficaram calados. E o Verbo, muito nervoso, continuou a falar com sua potente voz:
- Senhores, nós somos um exército composto por soldados talhados na forma de palavras. Lutamos numa guerra eterna para não perder a nossa identidade, para não deixar o invasor nos assimilar e implantar o seu idioma. Apesar da nossa vigilância vem a infame influência e planta uma palavrinha aqui, outra ali e quando abrirmos os olhos já não haverá um idioma, somente um dialeto. É preciso ensinar as crianças, desde cedo, a amar a língua. Como fazer? Ensinando-as a falar e escrever corretamente.
- Vejam os erros de concordância nas redações, isso é só uma parte, sem contar a incompreensão de textos e outras coisas mais. Tudo isso por conta do mau ensino. E vocês ficam aí discutindo bagatelas.
O verbo sentou e chorou. Dona Gramática, pensativa, admitia o erro no ensino da língua.
A festa que começara animada voltou aos “tempos primitivos” e foi preciso um “Imperativo” na tentativa de restaurar a alegria. A orquestra de letrinhas, que parara de tocar, começou a recolher os instrumentos que estavam no chão. E para que não houvesse mais confusão o Sujeito subiu numa cadeira e gritou.
- Aí pessoal, vamos agitar porque essa festa não está mais “manera”, parece um cemitério, pô. Os “manos” vieram aqui dançar e levar um “lero” legal.
- Vejam que falei gírias, também uso a forma culta, isso foi só para mostrar como é belo esse idioma que tem palavras para designar qualquer coisa. Procurem por aí a palavra saudade, ninguém tem, só nós. Tem mais pessoal, na festa da dona Gramática não há lugar para se discutir problema de ensino, aqui é o lugar da união de todos para formarmos um só corpo. Discutir ensino de gramática, isso é lá com “seu” Ministro.
Todos concordaram e o Sujeito saiu balançando o esqueleto pelo salão à procura de uma Flexão Adjetiva para um giro numa folha de caderno.
A FESTA DO FOLCLORE

Maria Hilda de J. Alão.



No mundo das lendas e dos mitos do Brasil havia um grande alvoroço. Estava chegando o dia de festejar o Folclore brasileiro. A preparação estava acelerada. A Mula-sem-cabeça, agitada, preparava as bandeirinhas coloridas, o Saci-pererê, que havia prometido ajudar, fazia suas peraltices trançando as crinas dos cavalos das fazendas, o que deixava os fazendeiros furiosos. Quando se lembrou da promessa, correu para ajudar a Mula a enfeitar o terreiro. Com seu cachimbo vermelho, soltando grandes baforadas, ele dizia:

- Cumade Mula-sem-cabeça, eu num sei si vai chegá muita gente pra essa cumemoraçãu. Hoji tá tudo tão isquisito! - A Mula-sem-cabeça, cortando as bandeirinhas, perguntou:

- Pur causa di quê, cumpadi?

- Minina, tu num sabi não? U pessoar dessi país anda inventandu umas festanças qui eu num sabia qui inxistia. Um tar de Dia das Bruxas. Ocê cunhece, aqui nu Brasir, essa tar de Bruxa?

- Nunca ouvi falá di tar sinhora. – respondeu a Mula-sem-cabeça.
Foi neste momento que chegou o Boitatá com seus grandes olhos de fogo e ouviu boa parte da conversa.

- Mi disse u meu amigu lubisome, qui é dama da terra dus gringus. Eli tamem num sabi pruque insinam as crianças a festejá um custume qui nãu é du povu brasilero.

Estavam nesta conversa animada quando chegou o Curupira. Como ele é o protetor das matas e da caça, trazia a carne para o churrasco que não deve faltar em qualquer festa. Chegou o Lobisomem avisando que antes do sol nascer ele teria de voltar para casa. Uns minutos depois, tocou uma corneta no meio do rio: era a Mãe d’água, a Uiara, que vinha numa canoa enfeitada com muitas flores brancas para participar da festa. O Negrinho do Pastoreio veio lá do Rio Grande do Sul montado num cavalo baio.

E prepararam tudo para a festa do Folclore no dia 22 de agosto. O terreiro estava lindo. O trabalho dos personagens folclóricos ficou perfeito. Faltava a luz para iluminar tudo, pois chegariam muitas crianças. A Mãe d’água deu a ordem:

- Dona Mula-sem-cabeça, acenda as tochas com o seu fogo!

- Sim, rainha das águas. – Ela obedeceu. O terreiro ficou claro como o dia. E começou a chegar a meninada. As crianças foram sentando e, curiosas, perguntavam, umas às outras, como seria o saci, o boitatá, o lobisomem. Elas nunca viram nenhum deles. Os acompanhantes das crianças organizam filas, dividiam-nas por idade e tamanho antes de abrir a cortina do palco. Todo mundo sentado, abriu-se a cortina e o Saci apareceu. As crianças bateram palmas e diziam: - Ele é igualzinho como nos livrinhos de histórias. – Vejam, o gorro vermelho e o cachimbo. É tudo igualzinho.
O Saci se curvou para agradecer e disse em voz alta:
- Mininada, vai cumeçá a festa du folclore! Pra iniciá, vem aí a Mãe d’água! – e estendeu o braço apontando para a Uiara, com seu vestido branco e azul, bordado com estrelas brilhantes. Ela cantou, lindamente, a canção de amor que enfeitiça os pescadores, levando-os para o fundo das águas onde ela mora. Depois foi a vez do Boitatá, grande cobra de fogo.

Ele é o gênio protetor dos campos e carrega consigo o orgulho de ter sido citado pelo padre José de Anchieta, como personagem de mito indígena. Foi aplaudidíssimo.

O Curupira, com seus pés para trás, sentou no chão do palco e narrou as suas aventuras em defesa das matas e dos animais. - Muito bem! Gritavam as crianças. O mesmo fez o Lobisomem com relação a sua história. Era o oitavo filho de mãe que teve sete filhas, por isso ele virava lobisomem nas noites de lua cheia. As crianças ficaram com peninha dele. – Coitadinho! Murmuravam. Depois foi a vez do Negrinho do Pastoreio. A história dele é muito bonita, pois Nossa Senhora o salvou dos maus tratos que ele sofria na fazenda. Os olhos da garotada ficaram cheios de lágrimas de tanta emoção. – Ainda bem que Nossa Senhora cuida das criancinhas! – disse uma delas enxugando os olhos com a manga da blusa.

Conhecida a lenda de todos, imediatamente, o Saci anunciou a segunda parte da festa. Era o momento das cantigas e das danças. E como foi bonito ver as crianças, vestidas com roupas alusivas à data, cantando e dançando, mostrando a riqueza do folclore do Brasil.
A FLORESTA DE CHOCOLATE


Maria Hilda de J. Alão.




- Vovó, isto que você está fazendo é o meu bolo de chocolate? – perguntou o menino de cinco anos, que entrou correndo na cozinha.
- É, meu querido! Seu gostoso bolo de chocolate. – respondeu a senhora.
- Você me deixa lamber a tigela? – perguntou ele já sentido a água crescer em sua boca.
- Só se não sujar a cara nem a roupa porque sua mãe fica brava comigo. – respondeu a vovó colocando o bolo no forno. Entregou a tigela para o menino, sentou-se em frente dele e disse:
- Enquanto você lambe o resto de massa de bolo, que ficou na tigela, eu vou contar a história da floresta de chocolate.
- Que legal! Oba! Existe floresta de chocolate, vovó?
- Não. Só nesta história que vou lhe contar. – e a vovó começou a sua narrativa.
- Num tempo que já vai longe demais, havia um reino governado por um rei muito triste. O seu palácio era pintado com tinta cinza, o manto real era de seda cinza, o céu, que ficava acima do palácio real, era coberto de nuvens cinzentas. O rei tinha fechado o seu reino e o seu coração para a alegria não entrar. Ele não deixava as crianças brincarem. Elas não podiam cantar, nem dançar, nem correr, tinham de ficar caladas andando nas pontas dos pés para não incomodar o rei.
O rei proibiu que fabricassem doces, balas, bolos e todas as guloseimas que as crianças adoram. Ele dizia que as crianças fazem algazarra quando comem doces e ele não suportava isso. Ficava na janela do palácio, horas e horas, olhando as crianças sentadas no chão da praça conversando bem baixinho para não perturbar o seu sossego. Depois se recolhia no quarto real com os olhos vermelhos como se tivesse chorado.
Era neste reino que morava a menina Lisandra com sua cadelinha Lilica. Toda manhã a menina levava a cadelinha para passear pelas ruas do reino e quando estavam chegando perto do castelo do rei, ela dizia:
- Lilica, não pode latir correndo atrás dos passarinhos, ouviu!
A cadelinha balançava a cabeça, dando sinal de que entendera a recomendação. Que lugar silencioso! Parecia um imenso deserto. Um dia, já cansada disso, Lisandra foi conversar com a fada Lilás que era sua amiga. Ela queria saber o motivo da tristeza do rei. A fada Lilás contou a história. O rei estava casado há muito tempo e não tinha filhos. O seu sonho era ter seus filhos correndo pelo castelo, muita risada, muita brincadeira, mas esta alegria a vida não lhe deu, e, assim sendo, ele resolveu decretar a lei do silêncio para as crianças. Então era isto.
Foi de Lisandra a idéia. Já que não podiam brincar no reino que tal brincar em outro lugar bem longe. De repente as crianças desapareceram. Durante as manhãs e as tardes de verão não se via mais elas andando silenciosamente pelas ruas. O rei ficou intrigado. Chamou seu primeiro-ministro e perguntou:
- Onde estão as crianças?
- Majestade, ninguém sabe. Elas, simplesmente, sumiram. – respondeu o primeiro-ministro temeroso, pensando nos seus cinco filhos que também sumiam e voltavam só a noitinha, sérios e compenetrados, sem dizer onde estiveram.
- Então mande apurar. Eu quero saber o que está acontecendo. – ordenou o rei.
E assim foi feito. O primeiro-ministro foi à presença do rei com a resposta:
- Majestade, as crianças, todas incluindo os meus filhos, depois das aulas e de cumpridas as tarefas, elas vão, sorrateiras, para a floresta.
O rei ouviu calado. Levantou-se do trono, e disse ao primeiro-ministro:
- Amanhã eu quero ir até a floresta. Preciso ver o que está acontecendo.
Assim foi feito. Quando o rei chegou ficou admirado. Dentro da floresta verdadeira havia uma outra toda de chocolate. As árvores, as frutas, as flores, os pássaros, os bichos, os rios, córregos e riachos, tudo era de chocolate. As pedras eram feitas de torrão de açúcar mascavo com gotas de chocolate, assim como os morros e as montanhas. Foi a fada Lilás quem fez a mágica. O rei ficou parado vendo a alegria das crianças. Elas corriam, riam alto e comiam os frutos de chocolate. Para beber era só se agachar, e com um canudinho, sugar o chocolate quentinho do rio. Depois foram brincar de roda. Cantaram uma canção que fez cair lágrimas dos olhos do rei.
“Onde eu moro tem um rei
Que impôs a solidão
Proibindo as brincadeiras
Ele é um bicho-papão.”

Neste momento elas ouviram uma voz forte, era o primeiro-ministro:
- Sua majestade, o Rei. – e bateu com a ponta do bastão furando o chão de chocolate da floresta. As crianças ficaram em silêncio. O rei se aproximou, ainda tinha uma lágrima no canto do olho, e disse:
- Continuem, continuem... é muito bonita a canção.
Lisandra, com todo o respeito, chegou perto do rei e com o seu lencinho de seda na mão pediu:
- Senhor rei, posso secar esta lágrima que está no canto do seu olho?
- Pode sim, menina.
E Lisandra secou a lágrima real. Depois, tomando o rei pela mão, o levou para conhecer a floresta de chocolate. O rei subiu e desceu morros, bebeu chocolate do rio, subiu na goiabeira e saboreou uma gostosa goiaba de chocolate branco. Correu atrás de uma borboleta de jujuba com os olhinhos de chocolate. Descobriu, no meio do capim açucarado, um leão de chocolate com a juba de creme de amêndoas; uma cobra listrada de chocolate marrom e branco; um coelho branquinho, de açúcar, com olhos de amendoim com cobertura de chocolate. A guarda do rei estava preocupada. Ele mudou. Já não estava triste. Pela primeira vez eles viram um sorriso no rosto do monarca. Quando cansou de tanta brincadeira, o rei pediu silêncio, ele ia falar.
- Crianças, a partir deste momento, eu devolvo a vocês o direito de brincar, sorrir e cantar muito. Quero muita alegria, quero fazer parte do mundo infantil, embora eu seja um rei um tanto velho.
As crianças bateram palmas, e fizeram uma roda em torno do rei cantando uma nova canção.

“Chegou a hora da folia
Nosso rei restaurou a alegria
Xô tristeza, vá embora,
Neste reino só felicidade mora.”

E, a partir daquele momento, o rei abriu as portas do palácio para as crianças do seu reino que lhe deram a felicidade que ele desejava.

- Sabe vovó, eu queria morar num lugar assim.
- Por quê? Não está feliz aqui com o papai, a mamãe e a vovó?
- Estou sim, era só pra comer toda a floresta de chocolate. – disse o menino rindo muito.
- Ah! Seu malandrinho. Vamos lavar esta cara toda lambuzada antes que sua mãe chegue.

A LEBRE


Maria Hilda de J. Alão.



Corre e pula a branca lebre
Fugindo do esporte que é febre.
Não é olimpíada de bicho,
É do homem um capricho


Caçar tão indefeso bichinho.
Às vezes escapa porque ele não acompanha
A sua corrida que mais parece
Vôo rasante e desaparece
Entre o capim que floresce.


Mas a lebre não foge da sanha,
Da bocarra que a abocanha,
Do tigre que vem com manha
Fazer dela a sua picanha.
A MAMÃE GALINHA

Maria Hilda de J. Alão.



Vivia, num grande galinheiro, uma galinha e sua ninhada de pintinhos. Eram doze lindos pintinhos amarelos e brancos. A mamãe galinha cuidava de todos com muito amor. Levava a ninhada para tomar banho no tacho que servia de bebedouro, espojar-se na terra para acabar com os piolhinhos que se escondem sob as penugens e penas das aves, e deitar ao sol para se aquecer até o momento de comer. Ah, neste momento a mamãe galinha dizia:
- Crianças, hora de comer! - E lá vinham todos correndo e piando alegremente liderados pelo pintinho que saiu primeiro da casca do ovo, o irmão mais velho. Avançavam na comida que o fazendeiro preparava diariamente para servir às aves, mas a mamãe galinha, sempre atenta, levava a prole para o cantinho onde o homem colocava o milho bem picadinho, acompanhado de verdura cortada bem fininha. Eles ainda não podiam comer a comida das aves adultas, pois se engasgariam com os grãos de milho. Depois de comer iam descansar sob as asas quentinhas da mamãe galinha.
Assim eles foram crescendo. Já estavam empenados, sabiam ciscar o chão com força procurando bichinhos e pedrinhas para um rápido lanche enquanto não chegava a hora da próxima refeição. Um belo dia a mamãe galinha chamou os pintinhos. Eles correm para ela. Então ela contou: um, dois, três, quatro...onze. Huuum! Está faltando o mais velho. A mamãe galinha ficou desesperada e começou a chamar:
- Có, có, có, có... - O pintinho não apareceu. Ela percorreu o imenso galinheiro, não encontrou o filhinho. Foi então que viu um buraco na rede de arame que cercava o galinheiro. Entendeu tudo. O pintinho saiu por ali. E agora, fazer o quê? Ela não podia deixar os outros filhos desprotegidos. Se saísse na certa os outros pintinhos escapariam pelo buraco da cerca e se perderiam. Ficou ali, diante do buraco, esperando. Os onze pintinhos estavam tristes, não tinham mais o irmão para liderar as brincadeiras. De vez em quando, ouvia-se o chamado da mamãe galinha. Era um có, có, triste, cheio de preocupação de uma mãe que espera o filho.
À tarde começou a chover, e o vento forte balançava a rede do galinheiro. A mamãe galinha se recolheu junto com os pintinhos na casinhola que era seu ninho. Agachou-se sobre as palhas, abriu as asas e recolheu todos os filhos. As outras galinhas e os galos perceberam a tristeza da mãe. A galinha carijó, que dormia no poleiro em frente à casinhola, disse:
- Comadre, não fique triste... ele saiu para conhecer o terreiro da fazenda e como é muito extenso demora um pouco. Logo estará de volta.
- Sei não, carijó. Com esse tempo, esse vento forte... Penso que o vento pode levar meu filho para longe, e ele, tão pequeno, não saberá voltar para casa.
Enquanto as duas conversavam o dono fazenda, todo encapotado por causa do aguaceiro que caía do céu, abriu a porta do galinheiro e tirou de dentro da sua capa o pintinho desaparecido. Colocou-o no chão e ele correu gritando:
- Mamãe, mamãe, eu tive tanto medo da chuva...
Foi um alvoroço na casinhola. Os irmãos piavam de alegria. A mamãe cantava de felicidade pela volta do filho são e salvo. Abriu as asas para aquecer o fujão que estava todo molhado. O pintinho prometeu que nunca mais escaparia por aquele buraco por maior que fosse a sua curiosidade, porque amor e proteção de mãe ele só tinha ali no galinheiro. E a mamãe galinha, num gesto de carinho, abria com o bico as penas molhadas do pintinho para limpar e ajudar a secar mais rápido.
- Puxa! Terminou a história, vovó? – perguntou o netinho.
- Claro, meu filho!
- Amor de mãe serve pra qualquer espécie, não é vovó!
- Sim, meu neto, qualquer espécie, até as cobras amam seus filhotes porque amor de mãe é o sentimento mais puro, mais sagrado que existe. Tudo pode passar, tudo pode desmoronar, mas o amor de mãe fica pairando sobre o mundo, sobre as pessoas através de séculos e milênios, é eterno meu querido neto.
- Agora me diga vovó, onde fica essa fazenda que tem uma galinha que fala?
- No país da minha imaginação...uai – respondeu a vovó, rindo.

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